Category Archives: Genocídio Indígena

Índios Gamela são atacados em Viana (MA)

Por CLAPA

No final da tarde deste Domingo (30) um grupo Gamela foi atacado na região do Povoado das Bahias, interior do município de Viana (MA). Ao menos 13 indígenas foram feridos por golpes de facas, paus e armas de fogo.

Os Gamela decidiram se retirar de uma área recentemente ocupada no Povoado das Bahias prevendo a possível violência por parte dos Grileiros-Fazendeiros e enquanto saíam foram atacados por dezenas de homens, entre eles fazendeiros e capangas armados, além disso, segundo os Gamela, a Policia Militar já estava no local quando começaram os ataques e não interveio.

Na foto, estrada que leva à retomada atacada. Ao fundo, um carro de polícia junto ao grupo de fazendeiros e capangas antes da ação violenta. Fonte: CIMI.

 

Segundo o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), as informações garantidas até agora sobre o massacre contabilizam cinco indígenas baleados, além disso outros dois tiveram as mãos decepadas. Até o momento não há confirmação de mortes.

Fonte: CIMI.

 

Reação às retomadas

Na sexta-feira (28) um grupo Gamela fez a retomada de uma área adjacente a Aldeia Cajueiro Piraí que fica localizada no território tradicional reivindicado pelos indígenas. Além disso os Gamela trancaram uma rodovia em apoio á greve geral e ao Acampamento Terra Livre.

Foto da área retomada na sexta-feira (28). Fonte: CIMI.

A reação por parte dos fazendeiros foi imediata.  Um texto passou a circular em diversos grupos de Whatsapp de Viana e comunidades próximas convocando os moradores locais a se unirem ao aparato repressor dos ruralistas: “Comunicado, venho através deste comunicar a sociedade de Matinha que ainda pouco tivemos uma reunião no Santero, que foi tratado a questões dos que se intitulam (indios) que na verdade são bando de ladrões, invasores de propriedades alheias, eles estão metendo terror na comunidade de são Miguel próximo ao santeiro, são Pedro ,estrada de Penalva e chulanga estão cortando arame, ameacando os moradores matando porco, galinha e gado e comendo. estão querendo realmente se apropriar de todas as propriedades ente itaquaritiua a Matinha ,Santero são Miguel e outras. e agora não só as grandes, as menores também, dizendo que vão invadir meter o panico. Diante isso tamos também nus organizando, unindo forças pra enfrentar esses ladrões, no dia 30 deste mês 14:00 horas terá outra reunião pra tratarmos desse assunto ,quem tiver interesse compareça lá, vamos nus unirmos pra defender o que eh de direito seu, hoje somos nois ,amanhã poderá se vc, não estamos livres desses bando de ladrões que se intitulam ( índios) compareça e divulgue a reunião acontecerá dia 30 deste mês no Santero as 14:00 horas (SIC)”.  

Porém os Gamela afirmam que o ataque estava sendo premeditado independente da retomada pois há um grupo que se auto intitula “Movimento Pela Paz” que está incitando moradores do povoado Santeiro. Os fazendeiros também têm se revoltado com o movimento de “corta de arame”  que os Gamela realizam por todo o território tradicional

Mídia local apoia os fazendeiros

Ouça na íntegra a entrevista com o Deputado Federal Aluísio Guimarães (PTN/MA), membro da bancada da bala no congresso e um dos incitadores do ataque, também participaram da entrevista outras lideranças que se posicionam contra as retomadas dos Gamela em seu território tradicional e a favor das ações genocidas dos fazendeiros e seus capangas.

 

Ataques ao Povo Gamela

Devido a ineficácia do órgão competente nos processos de identificação e demarcação de território (FUNAI) os Gamelas decidiram retomar por si suas áreas tradicionais que estavam sendo griladas e tomadas por fazendeiros. Em 2015 um ataque a tiros que não resultou em feridos foi empreendido contra uma destas áreas de retomada e em agosto de 2016 homens armados e em um carro de uma empresa de segurança invadiram outra área de retomada dos Gamela e foram expulsos pelos indígenas.

“Estamos tomando água poluída, de mercúrio. O povo yanomami vai sumir”

Davi Kopenawa, líder yanomami, denunciou na ONU a situação dos indígenas e criticou o Governo brasileiro. Em entrevista ao EL PAÍS, afirma: “A nossa mãe, a Funai, já morreu”
Davi Kopenawa, no parque Buenos Aires, em São Paulo

No final da década de 1980, o líder indígena yanomami, Davi Kopenawa, deixava sua aldeia, na floresta amazônica, para denunciar na Organização das Nações Unidas (ONU) que a terra de seu povo havia sido invadida por 40.000 garimpeiros em busca de ouro. Um levantamento oficial realizado na época constatou a presença de 82 pistas clandestinas de voo, usadas para levar esses trabalhadores ao centro da floresta, 200 balsas que bombeavam cascalho atrás do minério e cerca de 500 barracas espalhadas por três acampamentos localizados dentro de aldeias yanomami. Como resultado, estima-se que cerca de 20% da população indígena local tenha morrido por doenças, como malária, por fome ou vítima de outros impactos causados pela mineração, aponta um documento feito pelas associações dos povos indígenas locais com o Instituto Socioambiental (ISA), que começará a ser divulgado neste mês

Em 1992, o território yanomami foi, finalmente, demarcado. E, com isso, os garimpeiros foram expulsos da área. Mas a ameaça se acerca novamente. Desde 2013, registra-se uma volta em massa de garimpeiros da região, conforme relatou reportagem publicada em dezembro de 2014 pelo EL PAÍS. E o problema só vem aumentando. Segundo o documento feito pelas associações e pelo ISA, já foram constatados ao menos 84 indícios de garimpo ilegal, entre pistas de pouso clandestinas e áreas de extração do minério ao longo dos rios Uraricoera, Mucajai e Catrimani, todos dentro da área indígena Yanomami. Na semana passada, Davi voltou à ONU, para denunciar em Genebra a nova invasão. Ao lado de da coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), Sônia Guajajara, ele participou de uma reunião preparatória da Revisão Periódica Universal da ONU, que avaliará até o início do mês que vem os compromissos do Brasil em relação aos Direitos Humanos. Eles entregaram ao órgão uma carta, assinada por 30 organizações indígenas brasileiras, em que fazem denúncias em relação a atual situação da saúde dos seus povos, aos ataques vividos por eles e às mudanças na Fundação Nacional do Índio (FUNAI) feitas pelo Governo de Michel Temer. O líder indígena falou com o EL PAÍS, no escritório do ISA, em São Paulo.

Pergunta. O que você denunciou na ONU?

Resposta. Faz tempo que estou denunciando e falando para as autoridades brasileiras sobre a situação do povo yanomami. Fui agora na ONU para continuar a falar, a contar. Lá é difícil a gente chegar, então aproveitei a oportunidade [da entrega da carta]. Eles não estão enxergando a ameaça ao povo indígena brasileiro. Por isso que eu fui, para falar em nome do povo indígena, não só yanomami, que continua ameaçado por fazendeiros, mineradoras…

P. Como está a situação do garimpo na sua terra?

R. A Terra Yanomami foi homologada, mas não está sendo respeitada. Os garimpeiros começaram a voltar devagar em 2001, 2003. E nós continuamos falando para a Funai, em Brasília, para a Polícia Federal. As autoridades, o presidente do nosso país não está interessado em ajudar. Em 2013 entrou outra vez o garimpeiro com força, no rio Uraricoera, o maior rio que temos na floresta onde a gente mora. Entrou muito garimpeiro. Em 2014, o Exército, a Funai, o Ibama tentaram tirar. Tiraram, mandaram embora, mas não mandaram para a cadeia. E como eles não entram na cadeia, passa duas, três semanas e eles voltam. Agora tem muito garimpeiro, balsa, barranco, pista de pouso.

P. E tem havido consequências disso para o seu povo?

R. Estamos tomando água suja, poluída, de mercúrio [usado no garimpo]. Isso significa que meu povo vai sumir. Fica todo mundo doente, as mulheres, filhas, filhos, todo mundo contaminado. Se o Governo brasileiro não abrir os olhos, vai significar a perda do meu povo yanomami. Se der ordem para a polícia tirar o garimpo, estamos protegidos. Mas, se não, os garimpeiros vão aumentar como aconteceu em 1985, 1986. Vai enchendo de garimpeiro e espalhando.

P. As doenças têm aumentado, como ocorreu no final da década de 1980?

R. Os garimpeiros levam a doença pelo corpo. O corpo dos garimpeiros é contaminado, no sangue. Eles parecem sadios, mas por dentro eles são poluídos, contaminados. Quando eles entram na terra Yanomami, ficam lá um mês, dois meses, e a doença chega lá, ela vai junto. Os carapanãs [mosquitos] estão lá na floresta, limpos. Eles chupam o sangue do garimpeiro lá dentro, pegam a doença do corpo do garimpeiro e vão transmitir a doença para onde está a comunidade. Deixam a doença no corpo dos yanomami. É assim que a xawara [epidemia] funciona. Também acontece quando o garimpeiro convida uma índia yanomami em troca de comida. Ele vai usar nossas índias. O garimpeiro é doente e a doença passa para a mulher. DST. Doença venérea. Os garimpeiros são doentes, ficam andando na cidade, em outros lugares. E essa doença está espalhando. Os yanomami ficam doentes com HIV, malária, tuberculose e outras doenças que não têm cura.

P. Vocês também denunciaram os problemas no atendimento de saúde?

R. Governo federal tem a responsabilidade de cuidar da saúde do povo indígena do Brasil. É muito pouco o apoio da saúde. Remédio para fazer tratamento não tem. Remédio não chega. Não cura a doença que transmitem para os yanomami. Para matar a malária, precisa de microscópio para fazer o exame. Falta na cidade, no posto indígena. Tem [surto de malária] em pelo menos três lugares na nossa terra.

P. Vocês ajudaram a fazer um levantamento que mostra que há pelo menos 84 indícios de garimpo, com mapa. Vocês sabem onde o garimpo está. Por que o Governo não sabe?

R. O Exército sabe onde está o garimpo. Tem satélite. O Governo não quer [combater]. Eles têm apoio de quem compra ouro. Tem empresário de São Paulo que dá apoio para os garimpeiros lá de Boa Vista [Roraima]. Mandam mercadorias, combustível, voadeira [barco], hora de voo. O garimpeiro não tem tudo isso de dinheiro para comprar. Então os empresários daqui dão apoio. Nosso presidente não quer dar autorização para a Polícia Federal tirar. A Funai é quebrada. Nossa mãe, Funai, já morreu. Eles mataram. Só ficou o nome. Nome bonito, mas não tem o poder para ajudar a gente. A Funai em Brasília não tem apoio do Governo Federal. Eles não querem apoiar como antigamente. Fazia tempo que estava abandonado. Na época da Dilma já não tinha apoio, não. Mas agora tá pior. Acabaram com a Funai. Dia 31 [de março, quando Temer extinguiu quase uma centena de cargos comissionados, por decreto] nós recebemos a notícia muito feia que a nossa mãe Funai morreu. A alma dela morreu. Estão lutando para desmanchar nossas terras demarcadas. Se isso acontecer, vai acontecer a morte do meu povo. Vai acabar com meu povo yanomami. É porque nossa terra é rica de ouro. Onde não tem minério eles não vão mexer. Só onde tem ouro, diante, pedras preciosas. Por isso querem revogar as terras. Eles estão desfazendo tudo, desmanchando tudo. Querem municipalizar a saúde indígena. Mas o município não vai salvar o povo.

P. O que você espera que aconteça após sua fala na ONU?

R. Espero que a ONU pressione o Governo. Espero a força da ONU. Que a ONU cobre o erro do Governo no Brasil. O Governo brasileiro quando vai à ONU mente. Diz que os índios não estão morrendo, que estão bem cuidados. Fala bonito. Pede dinheiro de fora. O Governo funciona assim. Eu já conheço. Estou acostumado com os brancos desde criança. Sei como tratam a gente. Quando vão para fora, só falam nosso nome para beneficio deles, de negociação. E pegam mais dinheiro para destruir mais a nossa floresta amazônica. Agora em Genebra encontramos outros indígenas de outros países, como o Peru, Equador. Eles têm o mesmo problema: garimpo, mineração. O branco está mexendo em tudo, tá destruindo toda a natureza.

Fonte: El País

‘Estavam atirando em nós como se fôssemos criminosos’

Ato com mais de três mil indígenas termina com repressão em frente ao Congresso

Na tarde desta terça-feira (25), mais de três mil indígenas que participam do 14º Acampamento Terra Livre tomaram as ruas da Esplanada dos Ministérios, em Brasília.Depois de realizar uma espécie de grande marcha fúnebre, eles acabaram sendo reprimidos ao tentar depositar quase 200 caixões no espelho de água do Congresso. Os policiais utilizaram gás lacrimogênio e spray de pimenta contra os manifestantes. Havia mulheres, crianças e idosos no ato.

“Essa marcha simboliza o genocídio que o governo, junto ao parlamento e a Justiça, estão fazendo com os direitos dos povos indígenas. Queremos mostrar para o Brasil e o mundo o quanto a legislação indigenista brasileira está sendo atacada”, diz Kleber Karipuna, da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab).

Manifestante protege-se de ataque da polícia. Foto: Mídia Ninja / MNI

“A nossa principal pauta é pela demarcação das Terras Indígenas. É a primeira vez que se reúnem mais de três mil indígenas em Brasília nos últimos anos”, comenta Eunice Kerexu Guarani Mbya, da TI Morro dos Cavalos.

Saindo do acampamento, ao lado do Teatro Nacional Cláudio Santoro, a manifestação caminhou tranquilamente durante cerca de 40 minutos, quando chegou ao Congresso. A ação pacífica foi dispersada pelas polícias militar e legislativa.

Protesto foi pacífico até intervenção da polícia. Mídia Ninja / MNI

Angela Katxuyana, liderança indígena do norte do Pará, repudia a ação da polícia: “Cada dia a gente vem sofrendo, vem sendo massacrado, e quando a gente vem dialogar com o Estado, acontece isso. A violência contra os povos indígenas continua tanto no papel quanto aqui”, diz.

José Uirakitã, do povo Tingui Botó (AL), testemunhou a repressão, que se seguiu por mais de 1h, coletou artefatos utilizados pela polícia: “Eles estavam atirando como se fossemos criminosos”, revela.

De Pernambuco, Cida Atikum, uma das quase mil mulheres que participavam da ação, também se indignou: “Nós queremos o que é nosso por direito. Por isso que nós vamos mostrar que ‘pisa ligeiro, pisa ligeiro, quem não pode com a formiga não assanha o formigueiro!”

Cartucho de bomba de gás recolhido. Foto: Rafael Nakamura / MNI

Após a primeira dispersão, os indígenas tentaram continuar em frente ao Congresso, porém foram atacados seguidamente por novas levas de bombas de gás lacrimogêneo. Com a suspeita de que algum indígena pudesse ter sido detido, diversos manifestantes permaneceram no local com seus cantos e rezas. Ao fim do ato nenhum indígena foi preso.

 

Fonte: APIB

Em sete minutos, parlamentares aprovam mutilação de áreas protegidas no Pará

Presidente e relator da comissão que aprovou redução de proteção à floresta são alvo de inquéritos divulgados ontem da Operação Lava Jato

No final da manhã de hoje (12/4), numa sessão que durou sete minutos, parlamentares aprovaram o relatório do deputado José Reinaldo (PSB-MA) da Medida Provisória (MP) 758/2016, que reduz a proteção de 510 mil hectares de áreas protegidas, no oeste do Pará. O texto segue agora para o plenário da Câmara e, se lá for aprovado, para o Senado. A MP precisa ser apreciada até 29/5, ou perderá validade.

A sessão da comissão mista especial estava esvaziada, mas, por meio de uma manobra – que usou o quórum da sessão de ontem, quando o relatório foi lido – os poucos parlamentares presentes puderam votar por sua aprovação de forma simbólica, sem registro formal dos votos individuais. Estavam na sessão e votaram a favor da MP os deputados Zé Geraldo (PT-PA), Josué Bengtson (PTB-PA) e Joaquim Passarinho (PSD-PA) e o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) (veja vídeo abaixo da sessão).

O texto original da MP, enviado pelo governo ao Congresso no fim de 2016, ampliava o Parque Nacional (Parna) do Jamanxim em 50 mil hectares. O relatório lido ontem não apenas exclui essa ampliação como prevê a transformação de 101 mil hectares do Parna em Área de Proteção Ambiental (APA) e a transferênica de outros 70 mil hectares para a Floresta Nacional (Flona) do Trairão. Além disso, estabelece que 169 mil hectares da Flona de Itaituba II também sejam recategorizados como APA.

No final da votação de hoje, por um pedido de Flexa Ribeiro, foi aprovada uma emenda dos deputados Francisco Chapadinha (PTN-PA) e José Priante (PMDB-PA) para transformar em APA mais 172 mil hectares do Parna do Jamanxim (veja tabela abaixo).

A APA é uma Unidade de Conservação (UC) que permite em seu interior terras privadas, que podem ser regularizadas e vendidas. Na APA, o desmatamento é permitido, ao passo que em Parnas ele é proibido e nas Flonas só pode ser feito o corte seletivo da vegetação conforme plano de manejo. Portanto, podemos considerar que 510 mil hectares tiveram seu grau de proteção reduzido, sendo que, destes, 442 mil hectares podem vir a se tornar área privadas, englobadas em APAs.

O Parna do Jamanxim tem hoje quase 860 mil hectares. Se for aprovada pelo Congresso e sancionada pelo presidente Michel Temer a MP, só essa área perderá 344 mil hectares ou 40% de sua extensão total. A Flona de Itaituba II tem mais de 427 mil hectares e ela perderia também cerca de 40%.

Unidade de Conservação Antes da MP Texto do governo Relatório do CongresSo
Parque Nacional do Jamanxim (PA) 859,7 mil hectares Ganha 50 mil hectares Perde 344 mil hectares. Desse total, 273 mil podem se tornar áreas privadas em APAs. Outros 71 mil vão para Flona do Trairão, em área pública.
Floresta Nacional Itaituba II (PA) 427.366,56 hectares Não altera Retira 169 mil hectares para criação da Área de Proteção Ambiental do Trairão.

*Informações obtidas a partir do ICMBio, da proposta do governo e do relatório do deputado José Reinaldo (PSB/MA).

“Essa modificação [prevista na emenda aprovada na última hora], na verdade, estava incluída. Ela foi esquecida na redação do relatório e eu voltei a acatar. É uma área antropizada e não se vê sentido nenhum em não acatar a emenda”, defendeu Reinaldo, quando questionado sobre a inclusão da emenda aos 45 do segundo tempo.

Além da ocupação de agricultores, a construção da Ferrovia EF-170, conhecida como Ferrogrão, e a pavimentação da rodovia BR-163, que atravessam o Parna, estão sendo usadas como justificativa para a aprovação da MP. Na área transformada em Flona, a mudança pode beneficiar mineradoras. Parnas, diferente de Flonas, não permitem a mineração em seu interior.

Ontem, já havia sido aprovada outra MP, a 756/2016, que retirou 480 mil hectares da Flona do Jamanxim e outros 180 mil hectares da Reserva Biológica (Rebio) Nascentes da Serra do Cachimbo, na mesma região, além de 10 mil hectares, do Parna São Joaquim (SC), a milhares de quilômetros do Pará (saiba mais).

Portanto, no total, 1,1 milhão de hectares em áreas protegidas estão ameaçadas só no Pará. Se somarmos outro 1 milhão de hectares protegidos que parlamentares do Amazonas tentam retalhar no sul do Estado, falamos de quase 2,2 milhões de hectares protegidos sob risco, o equivalente ao território de Sergipe (leia mais).

(E-D) Deputado Zé Geraldo, senador Flexa Ribeiro, deputados Joaquim Passarinho e Josué Bengtson, que votaram a favor da MP

“A aprovação das duas medidas provisórias é um crime contra o Brasil. Todas essas agressões em conjunto terão efeito nocivo para a biodiversidade e o transporte de chuvas para o centro-sul do Brasil. Quem vai sofrer isso vão ser as pessoas nas cidades, os agricultores, a geração de energia, o país como um todo”, diz Ciro Campo, assessor do ISA. Ele ressalva que existem pessoas que estavam na área antes da criação do Parna do Jamanxim e merecem ter suas ocupações regularizadas, mas critica as MPs por elas beneficiarem também grileiros e ocupantes de má fé.

“Eu acho que foi um relatório feito muito às pressas, sob pressão de alguns proprietários que estão na região e que pretendem documentar suas propriedades”, opinou o deputado Zé Geraldo (PT-PA), vice presidente da comissão mista. Apesar da crítica, ele votou favoravelmente ao relatório.

“Minha posição pessoal é que não deveria ser resolvido por Medida Provisória. O governo faz maioria e passa o que quer”, disse o presidente do colegiado, senador Paulo Rocha (PT-PA). Mesmo assim, foi ele o responsável por conduzir uma sessão de votação em sete minutos, com o quórum esvaziado.

José Reinaldo e Paulo Rocha, relator e presidente da comissão, são alvo de inquéritos divulgados ontem pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Édson Fachin em processos relacionados à Operação Lava Jato. O primeiro é suspeito de, na época em que era governador do Maranhão, ter sido conivente com propina paga pela empreiteira Odebrecht para o procurador-geral do estado. Paulo Rocha, por sua vez, é suspeito de solicitar verbas não contabilizadas para a campanha eleitoral de Helder Barbalho ao governo do Pará, em 2014.

Fonte: Instituto Socioambiental

Na Colombia, líderança da Ação Comunal de Yarumal, Luz Herminia Olarte, é assassinada


Luz Herminia Olarte, líder comunitária, camponesa e indígena, presidente da Junta de Ação Comunal de Yarumal foi assassinada no último dia 7 de fevereiro, na Colombia.

Desde o início do ano já são 19 lideranças assassinadas na Colombia, 5 delas envolvidas na defesa dos direitos humanos na Antioquia e as autoridades e instituições estatais nada dizem e nada fazem contra os assassinos.

Antes de ser morta, Luz Olarte tinha alertado as autoridades sobre as ameaças de assassinato que sofria, sem nenhum resultado por parte do estado. Seus assassinos fazem parte de grupos neo-paramilitares que trabalham como mercenários para as elites e empresas multinacionais.

(Leia o informe em espanhol)

El pasado 7 de febrero fue encontrado el cuerpo sin vida de la lideresa comunitaria y defensora de derechos humanos Luz Herminia Olarte, la Coordinación Colombia Europa nodo Antioquía, denunció los hechos a través de un comunicado y señaló que en lo corrido del año ya son 19 los líderes y lideresas asesinadas, de los cuales 5 tenían una ardua labor de defensa de derechos humanos en Antioquia y las instituciones estatales, no dicen nada.

Óscar Olarte integrante de la Coordinación, señaló que la lideresa era presidenta de la Junta de Acción Comunal de Yarumal y tenía un proceso con las comunidades campesinas del Llano de Chalí en Yarumal, relata que “fue vilmente asesinada” y aunque se había alertado a las autoridades de amenazas previas contra la lideresa, “las autoridades no hicieron nada”, en la misiva, la Coordinación exigió garantías al Gobierno y celeridad en las investigaciones para todos los asesinatos de líderes.

Las autoridades sabían de las amenazas

La organización, reveló que a pesar de recurrentes informes entregados al Sistema de Alertas Tempranas de la Defensoría sobre los asesinatos sistemáticos y el avance de grupos neo-paramilitares, “no existen medidas efectivas del Estado para repeler, reducir, desarticular o someter a estos grupos”. (Le puede interesar: 4 líderes afrocolombianos asesinados en menos de un mes)

Olarte manifestó que existe una preocupación por parte de las comunidades y organizaciones de derechos humanos que hacen presencia en la región, por el fortalecimiento de las estructuras paramilitares, las “estrategias evidentemente sistemáticas” de asesinatos, amenazas, hostigamientos, el silencio y la negligencia de las instituciones del Estado.

El defensor advirtió que tanto las comunidades como organizaciones han registrado que estos grupos paramilitares de las Autodefensas Gaitanistas, se han movilizado por zonas donde hay presencia del Ejército, y “las Fuerzas Militares no han impedido su paso”.

En 2016 un líder o lideresa fue asesinado cada mes en Antioquia, sin embargo en 2017 “tenemos un aumento de 500% en los asesinatos, van 2 meses y ya son 5 los líderes que han perdido la vida” puntualizó Olarte.

Por último, afirmó que saben del avance de estos grupos hacia el Urabá y “otras zonas que antes eran ocupadas por las FARC”, comentó que la comunidad de encuentra muy preocupada, temen por la vida de los demás líderes y por la continuidad de los procesos campesinos en la región, además resaltó que de acuerdo con lo pactado en La Habana, “el Gobierno no puede seguir evadiendo la responsabilidad de desmantelar el paramilitarismo”.
Fonte: Contagio Radio

Indígenas exigem demissão de policiais autores das agressões em Aracruz

Duas rodovias bloqueadas, com passagem permitida apenas para ambulâncias e outras emergências, e reunião marcada para às 13h desta segunda-feira (6) com o Ministério Público Federal e a Fundação Nacional do Índio (Funai). Essas são as principais ações movidas pelas comunidades indígenas de Aracruz, norte do Estado, em protesto aos atos truculentos da Polícia Militar na tarde do último sábado (4), na presença de mulheres e crianças.

Logo após as agressões dos policiais, os Tupinikim fecharam a rodovia Primo Bitti, que liga as aldeias de Caieiras Velha e Irajá. E na manhã desta segunda-feira (6), também a ES-010 foi bloqueada, na altura da aldeia Três Palmeiras, a partir das 5h.

Ao contrário de algumas mensagens que têm sido compartilhadas nas redes sociais, os protestos são pacíficos e visam chamar atenção para o abuso de autoridade cometido pela Polícia Militar contra os indígenas.

Aegundo informou Josiane Francisco, liderança Tupinikim em Pau Brasil, a Comissão de Caciques se reunirá nesta tarde, na sede da Associação Indígena Tupiniquim e Guarani (AITG) em Caieiras, com o procurador da República em Linhares e o procurador da Funai. “A pauta principal é a demissão dos cinco policiais envolvidos diretamente nas agressões”, destaca Josiane.

O ressarcimento pelos cavalos feridos também é reivindicado. Além disso, outros assuntos pendentes com o governo estadual serão discutidos, entre eles, a abertura da Escola Estadual Indígena de Ensino Médio Aldeia Caieiras Velha. Mesmo inaugurada em dezembro de 2014, a unidade não chegou a funcionar, pois o então recém-empossado governador Paulo Hartung não cumpriu com a parte do Estado na parceria com a prefeitura e as comunidades, ao deixar de contratar os educadores e outros funcionários necessários.

Também nesta manhã os cavalos feridos por armas de fogo foram levados, a pedido da Secretaria de Saúde de Aracruz, para um rancho conveniado, no município da Serra, onde será feita a retirada dos projéteis e a perícia para integrar o processo que os indígenas estão movendo contra a Polícia.

Manifesto Kayapó Mebengokré: Recuar Jamais

Na foto, guerreiros da aldeia Kedjerekrã prontos para a luta.
Foto: Simone Giovine

Nós, o povo Kayapó Mebengokré, articulados com o movimento indígena nacional, manifestamos nosso repúdio aos ataques deste governo aos nossos direitos. Entregar a Funai ao PSC e aos militares é ignorar nossas reivindicações para atender aos interesses de parlamentares e grupos econômicos que só querem tomar as nossas Terras e acabar com nossos direitos.

A eles, nosso recado: jamais recuaremos na defesa dos direitos conquistados. Estamos preparados para a guerra e unidos na defesa de nossas terras, famílias e cultura!

A luta continua até o último índio!

Decreto coloca em risco terras indígenas já demarcadas e inviabiliza 80% dos processos de demarcação

Um novo decreto do ministério da justiça coloca em risco mesmo as terras indígenas já demarcadas e reconhecidas por governos anteriores. Permite que estas terras sejam contestadas por “interessados”, incorporando as teses de interesse de fazendeiros e as exigências contidas na PEC 215.

Este decreto evidentemente elaborado para garantir os interesses dos ruralistas, representa na prática a revogação do decreto 1.775 que há 20 anos regula o tema. Se for colocado em operação irá inviabilizar mais de 80% das terras indígenas no país, cerca de 600 territórios em processo de demarcação reivindicados pelos índios.
A minuta adota a tese do “marco temporal”, em que somente indígenas que estavam na terra ou a disputavam judicialmente em outubro de 1988, podem ter direito a ela. Os índios que foram expulsos de suas terras e não as retomaram em 1988, mesmo que por meios violentos, perdem o direito de reivindicá-la.

Também processos de demarcação que estão em andamento terão que incorporar “as diretrizes” do documento. Esta prevista abertura de prazo de 90 dias para que “interessados” se manifestem sobre processos que já estejam homologados pela Presidência, mas sem registro em cartório, última etapa do processo de demarcação.

Na prática o que vemos são uma vez mais as elites brancas, alterando as leis para eliminar direitos históricos, fruto da luta das gerações passadas, implementando políticas de genocídio para garantir seus privilégios as custas do futuro das populações indígenas.

A cada 14 dias morre um idioma

Por Isidoro Merino

Nos últimos 10 anos mais de 100 línguas desapareceram.

Tommy George, que morreu em julho, era o último falante de awu laya, uma língua aborígene da Austrália.
Tommy George, que morreu em julho, era o último falante de awu laya, uma língua aborígene da Austrália

Tommy George, o último dos kuku-thaypan de Cape York (Austrália), morreu no dia 29 de julho, com 88 anos. Tommy George era o último falante de awu laya, uma língua aborígene da Austrália. Com ele morreram 42.000 anos de história e conhecimentos transmitidos de forma oral.

Cristina Calderón (nascida em 24 de maio de 1928) é a última falante nativa da língua yagán, da Terra do Fogo.
Cristina Calderón (nascida em 24 de maio de 1928) é a última falante nativa da língua yagán, da Terra do Fogo.

Cristina Calderón (nascida em 24 de maio de 1928) é a última falante nativa da língua yagán, da Terra do Fogo. Hoje ela vive em Puerto Williams, um assentamento militar chileno na ilha Navarino.

No mês passado, foi assassinada na floresta do norte do Peru Rosa Andrade, de 67 anos, a última mulher falante de resígaro, uma das 43 línguas indígenas da Amazônia.

Rosa Andrade, a última mulher que falava resígaro, foi assassinada em novembro, na Amazônia peruana.
Rosa Andrade, a última mulher que falava resígaro, foi assassinada em novembro, na Amazônia peruana.

Nos últimos 10 anos, desapareceram mais de 100 línguas; outras 400 estão em situação crítica e 51 são faladas por uma única pessoa. A cada 14 dias morre uma língua, de acordo com a Unesco. Se continuar assim, metade das 7.000 línguas e dialetos falados hoje no mundo se extinguirão ao longo deste século. Quando uma língua morre não se perdem apenas as palavras, mas todo o universo cultural ao qual davam forma: séculos de histórias, lendas, ideias, canções transmitidas de geração em geração que desaparecem “como lágrimas na chuva”, junto com valiosos conhecimentos práticos sobre plantas, animais, ecossistemas, o firmamento. Um dano comparável à extinção de uma espécie.

Fanny Cochrane gravando canções aborígenes da Tasmânia para a Royal Society de Hobart.
Fanny Cochrane gravando canções aborígenes da Tasmânia para a Royal Society de Hobart. Wikimedia

Com Fanny Cochrane, que morreu em 1905, se foi a última língua nativa da Tasmânia. Entre 1899 e 1903, ela gravou num dos primeiros fonógrafos as canções aborígenes que conhecia para a Royal Society of Hobart, a capital da ilha australiana. O cantor folk Bruce Watson conta a história dela em The Man and the Woman and the Edison Phonograph (O Homem e a Mulher e o Fonógrafo Edison).

Com a morte, em 2004, aos 98 anos, de Yang Huanyi, desapareceu o nushu, um sistema secreto de escrita empregado durante ao menos quatro séculos pelas mulheres chinesas para burlar o controle dos homens. Como muitas mulheres chinesas de seu tempo, Yang Huanyi tinha pés minúsculos e deformados; a prática de amarrar os pés das meninas foi proibida em 1912.

Yang Huanyi, a última pessoa capaz de ler e escrever em nushu, um sistema de escrita codificada usada durante séculos por mulheres chinesas.
Yang Huanyi, a última pessoa capaz de ler e escrever em nushu, um sistema de escrita codificada usada durante séculos por mulheres chinesas. Wikimedia

Charlie Mangulda é a última pessoa na Terra que fala e entende o amurdag, língua oral de um grupo de aborígines do norte da Austrália, como explica neste vídeo K. David Harrison, autor do livro The Last Speakers (Os Últimos Falantes), da National Geographic.

Harrison, professor de linguística do Swarthmore College, na Pensilvânia (EUA), é um dos responsáveis do projeto Enduring Voices (Vozes Duradouras), da National Geographic. Ele viajou pelo mundo inteiro, da Sibéria e o Cáucaso ao norte da Austrália, passando pelo sul do México e as ilhas mais remotas da Indonésia, entrevistando os últimos guardiões de línguas minoritárias em risco de desaparecimento. Muitas das que estudaram nunca tinham sido gravadas ou colocadas por escrito; outras nem sequer eram conhecidas. Em 2010, documentaram pela primeira vez o koro, língua falada por menos de mil pessoas nas montanhas de Arunachal Pradesh, no nordeste da Índia. Abaixo se pode ver Anthony Degio, da tribo koro, explicando o uso que seu povo faz de 11 plantas na região onde vivem.

Em fevereiro, a equipe do Enduring Voices apresentou os primeiros resultados de seu trabalho, oito dicionários sonoros e visuais de idiomas moribundos como o chemehuevi (Arizona, EUA); o euchee (Oklahoma, EUA); o hupa, o karuk, o wintu e o washoe (Califórnia, EUA); o tuvan (Rússia); o aka (Índia), ou o seri (México). No total, 32.000 palavras salvas do esquecimento.

Com o mesmo objetivo nasceu o projeto Endanged Languages (Línguas Ameaçadas de Extinção), uma iniciativa do Google para dar voz àqueles que as falam e àqueles que se esforçam para conservá-las. Trata-se de um fórum aberto que oferece a oportunidade de postar arquivos de vídeo, gravações e documentos, e também compartilhar conhecimentos e experiências. Nesse vídeo do Endanged Languages, a avó Margaret, uma senhora da tribo navajo (Novo México, EUA) explica ao neto, com a ajuda do tradicional jogo de cordel, a origem das constelações, como relata uma antiga lenda indígena.

Neste outro, uma moradora do vale de Ansó, nos Pireneus de Huesca, narra em aragonês ansotano a história As Crabitetas (As Cabrinhas). Na Espanha, também estão na lista de línguas ameaçadas o aragonês, o asturiano (ásturo-leonês ou bable) e o gascão do Val d’Aran (Lleida) ou aranês.

O Atlas das Línguas em Perigo da Unesco catalogou 2.581 línguas, que são mostradas num mapa interativo do Google. Os resultados podem ser filtrados por região geográfica, pelo nome do idioma ou pelo número de pessoas que o falam.

 Fonte: El País