Category Archives: Genocídio Indígena

Grave situação dos indígenas Shuar da Cordilheira del Cóndor, no Equador

Plataforma CACI apresenta panorama do genocídio dos indígenas no Brasil

A Plataforma de Cartografia dos Ataques Contra Indígena (CACI) é um recente levantamento de ataques contra povos indígenas no território dominado pelo Estado Brasileiro. Foi ao ar em junho de 2016 e mapeia parte da violência civilizatória contra povos tradicionais entre os anos de 1985 e 2015.

Nela já constam cerca de 750 assassinatos entre 2003 e 2015 No Mato Grosso do Sul, conhecido por seu contexto de conflitos entre latifundiários e comunidades tradicionais lutando por terra e autonomia – encontra-se em pequenas porções de terra, a segunda maior população indígena no território brasileiro.

Segundo a plataforma CACI é também no Mato Grosso do Sul que estão concentradas mais da metade dos ataques, 400 dos quase 750 assassinatos de indígenas entre 2003 e 2015. A Plataforma de Cartografia de Ataques Contra Indígenas pode ser acessada pelo link.

http://caci.rosaluxspba.org/

Em cerimônia, veteranos do exército pedem desculpas aos Sioux pelo genocídio

Na celebração da vitória indígena que aconteceu em Standing Rock no dia 6 de dezembro, veteranos das forças armadas que se juntaram ao protesto em apoio aos povos indígenas, nas palavras de Wes Clarck Jr, se ajoelharam e pediram perdão aos povos indígenas:

General Wesley Clark Jr. e outros veteranos se ajoelham diante de Leonard Crow Dog durante a cerimonia de perdão na terra indígena Sioux Lakota de Standing Rock. Segunda, 5 de dezembro de 2016.

-“muitos de nós, eu particularmente, somos das unidades que tem ferido vocês por muitos anos, chegamos e lutamos contra vocês, roubamos suas terras e firmamos tratados que não cumprimos, roubamos minerais de suas colinas sagradas, esculpimos os rostos de nossos presidentes em suas montanhas sagradas, roubamos mais terra e pegamos suas crianças, e tentamos apagar suas línguas (…) não os respeitamos e poluímos sua terra, os machucamos de tantas formas, mas viemos dizer que sentimos por isso, que estamos ao seu serviço, e que pedimos seu perdão”.

A Resposta do chefe Leonard Corvo Cão: -“paz para o mundo! vamos fazer um passo, somos a nação soberana Lakota, nós fomos nação e continuamos sendo nação, temos uma língua para falar, temos preservado uma postura de guardiões, nós não somos donos da terra, nós pertencemos a ela.”

O ato dos veteranos não conta com o apoio das forças armadas, mas é bastante simbólico: 2100 veteranos de várias guerras se juntaram à luta dos povos indígenas, se contrapondo ao governo para evitar a construção do oleoduto.

Mostrando que a consciência do respeito a nossas terras sagradas é possível para aqueles que em algum momento estiveram contra nós defendendo os interesses das corporações e do estado.

Kenny Nagy, veterano da guerra de Vietnam, declarou “finalmente vamos estar ajudando os povos dos Estados Unidos ao invés de empresas”.

Nossa luta indígena é pela dignidade e é também pela consciência do respeito pelo mundo que partilhamos como parentes: parentes de muitos povos, parentes dos rios, das plantas e dos animais, todos filhos da terra que nos viu nascer.

Estado Brasileiro julgado por genocídio em Tribuna Popular

Na véspera do Dia da Consciência Negra, 19 e novembro, o Estado Brasileiro foi colocado no banco dos réus. Julgado numa tribuna popular na cidade de São Paulo pelos crimes de genocídio contra os negros, indígenas, e pessoas pobres. Durante o julgamento foram apresentados uma série de casos e evidências recentes do genocídio naquela região.

Um jovem negro é assassinado a cada 23 minutos no Brasil. A cada ano são assassinados 23.100 negros na faixa etária de 15 a 29 anos. A taxa de homicídios contra negros é 4 vezes maior que a observada entre jovens brancos.

Índios manifestam na Esplanada dos Ministérios
Data: 11/11/2015 – Foto: Lucio Bernardo Junior / Câmara dos Deputados

Estas são algumas evidências do genocídio da população negra em andamento, no campo, nas periferias e em grandes centros urbanos.

Centenas de milhares de indígenas têm sido exterminados desde o início da colonização através da escravidão, através do roubo de suas terras ancestrais, através da destruição das paisagens em que vivem, através do envenenamento e do assassinato, através do desrespeito institucionalizado de seus modos de ser. Foram e seguem sendo dizimados em iniciativas de extermínio privadas e estatais, para benefício de oligarquias, e todos estes crimes foram acobertados pela cegueira seletiva da justiça estatal.

Votorantim ameaça a vida no Rio Camaquã com reativação de mina de chumbo e zinco

Ambientalistas, indígenas e ativistas estão se articulando para barrar a ativação da mina de chumbo e zinco pela Votorantim, na localidade de Minas do Camaquã, Caçapava do Sul (RS).

A ativação desta mina pode potencialmente poluir centenas de quilômetros de um dos maiores rios da região, afetando diretamente a vida de centenas de milhares de pessoas que vivem as margens do rio, os rejeitos da mina pode tornar tóxico e contaminado uma das paisagens mais lindas do bioma pampa. Entre as várias localidades potencialmente afetadas estão três terras indígenas guarani, entre elas a Pacheca, localizada próximo a foz do Rio Camaquã. Ainda que boa parte da população da região seja contra a mineração, a Votorantim e o governo seguem apressados no processo burocrático de ativação da mina.

Outras minas controladas pela Votorantim – como a instalada no município de Vazante (MG) que contaminou pesadamente com arsênio o rio Paracatu e seus afluentes – costumam destruir fontes de água potável e contaminar o solo em vastas regiões.

Documentos da Cruz Vermelha revelam massacre de indígenas na ditadura

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Trabalhos forçados, miséria e doenças levaram povos “à beira do extermínio” na década de 1970, registram informes confidenciais do Comitê Internacional da entidade

Num estado de saúde deplorável, aniquilados por doenças, uma miséria profunda e trabalhando como escravos para fazendeiros, povos indígenas inteiros estiveram próximos de desaparecer no final dos anos 60 e início da década de 70.

Isso é o que revelam informes confidenciais preparados pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha e que estiveram guardados por quase meio século de forma sigilosa em Genebra. Alguns povos passaram a praticar abortos diante da constatação de famílias de que não teriam como garantir a sobrevivência da nova geração.

A entidade, depois de uma intensa negociação com o governo militar brasileiro, foi a primeira organização internacional a sair ao resgate dos índios da Amazônia, num momento que jornais e especialistas estrangeiros apontavam para um “genocídio” na floresta brasileira.

A reportagem teve acesso a centenas de páginas de documentos dos arquivos do Comitê Internacional da Cruz Vermelha que, de forma inédita, apresentam detalhes do regime militar brasileiro entre 1965 e 1975. Os arquivos estavam fechados até este ano.

O que os documentos revelam é, acima de tudo, a miséria de um grupo cada vez mais pressionado por interesses econômicos e sem contar com a assistência da Funai, considerada pelo CICV como “incapaz” de lidar com a crise.

Os alertas para a entidade começaram a chegar na primeira metade ainda dos anos 60, com especialistas europeus denunciando a crise. Os capítulos nacionais da Cruz Vermelha na Alemanha e nos países nórdicos também pressionaram e indicaram que estavam dispostos a financiar uma ação na Amazônia. Mas o CICV levaria anos para agir. Primeiro, por alegar que jamais tomaram uma iniciativa similar. Quando optou por se lançar na operação, já em 1969, teve então de superar a resistência do governo brasileiro.

Na época, o então ministro do Interior, José Costa Cavalcanti, aceitou a missão, com o compromisso de que fosse puramente humanitária e que resultasse em uma ajuda real. Ele, porém, negava qualquer ato deliberado das autoridades em promover um massacre, tese divulgada naquele momento pela Europa.

Foi finalmente em 1970 que uma missão foi enviada ao Brasil, liderada pelos delegados Bo Akerren, Sjouke Bakker e Rolf Habersang. Em pouco mais de três meses, eles visitaram 20 povos e 30 vilarejos, tendo acesso ao que acreditam ser um terço da população indígena da Amazônia Legal naquele momento, avaliada em cerca de 70 mil.

Os delegados, em suas conclusões, disseram claramente que “não entrariam na questão se há ou não um genocídio”. Mas foram taxativos: se nada for feito de forma rápida, “não haverá mais o problema indígena para resolver”.

Para chegar a essa constatação, o grupo percorreu uma trajetória que se confundia com o percurso do abandono de populações inteiras pelas autoridades.

No dia 17 de maio de 1970, o diário da viagem dos delegados conta como na aldeia Santa Isabel, com 250 índios Carajás, a malária tracoma e gastroenterite dominavam o local. Mas o destaque foi o “baixo padrão de higiene, agravado pela presença de muitos cachorros que poderiam ser fonte de tuberculose”. No dia seguinte, a duas horas dali em barco, uma outra aldeia foi descrita como tendo um “padrão muito baixo de higiene, pessoas e local sujos” e uma epidemia de influenza, pneumonia combinada com malária e tuberculose. “Essa aldeia Carajás deu a impressão de estar totalmente negligenciada e apática”.

No dia 27, a visita a uma aldeia Kanayurá encontrou uma população “muito pobre”, com a presença de bronquite, casas “muito dilapidadas” e mulheres e crianças “magras e fracas”.

Alguns dias depois, entre os Bororo no Mato Grosso, a delegação deparou com uma situação de “ extrema pobreza”, anemia severa e com 15% da população sofrendo com tuberculose. “A tribo está rapidamente em declínio em números por conta das doenças, alimentação inadequada e completa ausência de ajuda médica”, alertou. “A falta de ajuda vai logo levar à extinção dos Bororos”, indicou a delegação.

No dia 1 de junho, numa visita a um ambulatória da Funai nas proximidades de Cuiabá, a delegação foi informada que o estado do Maro Grosso tinha apenas 50 camas para tratar tuberculose e com longas filas de espera. “As chances dos índios serem internados eram praticamente zero”, constatou.

Abortos frequentes

Uma visita ao Seringal do Faustino, 60 km de Vilhena na direção de Porto Velho, também deu a dimensão da crise no dia 5 de junho de 1970. Numa aldeia Nambiquara, entre doenças e desnutrição, os índios apenas comiam “ocasionalmente algum arroz de um fazendeiro que queria que eles trabalhassem”.

“Todos são obrigados a trabalhar para o fazendeiro, uma espécie de chefe local que os mantinha mais ou menos em um estado de completa dependência, dando algum arroz de tempos em tempos e ocasionalmente alguma roupa”, disse. “As mulheres não querem engravidar, pois temem perder os filhos diante do trabalho duro que tem de fazer e do temor de não poder cuidar”, apontou. O resultado eram abortos frequentes e, portanto, um estagnação na população da aldeia.

Os índios Nambiquara pelas lentes do antropólogo Lévi-Strauss

Os índios Nambiquara pelas lentes do antropólogo Lévi-Strauss

O risco de extinção ainda foi apontado na aldeia de Capitão Pedro, 50 quilômetros de Vilhena na direção de Cuiabá. Segundo o informe, um grupo de Nambiquaras estava em uma “situação verdadeiramente desesperadora e se ajuda não for dada, a aldeia provavelmente desaparecerá completamente”. Não distante dali, a delegação constatou que sete pessoas de um grupo de cem índios tinham morrido de sarampo em três semanas. Outros 20 estavam doentes. Em Feijoal, duas horas de barco de Belém, os Ticuna estavam em uma situação “realmente miserável”.

No posto da Funai de Mãe Maria, uma hora de Marabá, um outro grupo de 46 índios tinha apenas farinha para comer. “Esses índios estavam no estado mais deplorável que encontramos em termos de saúde”, disse o informe. “Homens e mulheres estavam muito doentes”, contou, apontando que eles haviam sido transferidos de suas terras diante da construção da rodovia Belém-Brasília.

Em agosto, um grupo Kayapó Xikrin, uma hora de Marabá, constatou que, alguns anos antes, uma epidemia de pólio matou um terço da aldeia, com cerca de 50 vítimas.

Risco do contato

Diante das constatações e das visitas, os delegados do CICV chegaram à conclusão de que os povos mais isolados são aqueles que estavam em melhor situação em termos de saúde. “Índios isolados em seus habitats podem ser considerados como estando melhor adaptados e em equilíbrio com o meio ambiente”, indicou a missão.

Teria sido o contato com a “civilização”, na maioria dos casos, que teria levado grupos inteiros a viver uma situação de risco. Como recomendação, o CICV sugere que os novos contatos fossem feitos de forma “cuidadosa”. “Eles (índios) são tirados do equilíbrio em contato com outras civilizações, como a nossa”, explicaram. Esse contato poderia levar a “novas infecções, novos hábitos de alimentação, estrutura social, novos sistemas de valores”.

“Quanto mais rápido e sem controle (ocorrer) o contato, maior o risco de os índios sucumbirem, não apenas como membros de uma entidade tribal, mas também como seres humanos”, constatou. Nos meses que se seguiram à missão, a entidade montou um amplo plano de entrega de remédios e alimentos na região, num esforço para evitar que a população indígena fosse dizimada.

Mas ela também constatou que não havia dúvidas de que, nos anos seguintes, a sociedade brasileira iria “forçar seu caminho a novas áreas e esses índios vão estar ainda mais pressionados”. Quanto à FUNAI, seus recursos seriam “insuficientes” para lidar com a crise.

Uma avaliação que, 46 anos depois, provaria certeira ao ponto de uma recente relatora da ONU para o direito dos povos indígenas, Victoria Tauli Corpuz, adotar o mesmo tom em relação à pressão que grandes obras de infraestrutura podem gerar na demarcação de terras. “Informações apontam para uma regressão preocupante na proteção dos índios”, afirmou.  Ela ainda completou sua avaliação com uma constatação: “o País tem uma dívida histórica com os povos indígenas, que sofreram a marginalização desde a formação do Estado”.

Dívida essa que continua sem ser quitada.

 

Fonte: http://apublica.org/2016/10/documentos-da-cruz-vermelha-revelam-massacre-de-indigenas-na-ditadura/

516 anos de golpes contra os indígenas

Nós indígenas estamos acostumados a lutar. São 516 anos que nos golpeiam continuamente. Desde que invadiram nossas terras, fomos apunhalados, enganados, roubados e massacrados.

Os descendentes das invasores estão aqui hoje! Geração após geração dominam através de golpes!

Golpearam nossas tradições com sua religião. Nos impuseram seus cultos à culpa, ao sofrimento, e ao progresso – tudo a serviço de seus próprios interesses. E seguiram nos golpeando, roubando nossas terras, às custas da vida e da saúde dos nossos filhos e netos, às custas da vida da própria Terra!

Eles ignoram que somos nós quem sabe o que é melhor para nós. Enxergar leva a angústia.

Mas não há como desistir, não podemos esquecer dos velhos que lutaram contra a guerra de extermínio dos europeus para estarmos aqui orgulhosos de quem somos, povos livres e não escravos desses monstros, que são as corporações e os estados. Sabemos que os valores dos nossos ancestrais estão vivos em nós, lembrando deles fortalecemos nossa Cultura da Resistência.

A maioria agora precisa lutar! Nós também estamos na luta!  Lutamos pelo que acreditamos, nos pintamos e partimos para a luta!

Baseado no texto de Potyra Tê Tupinambá

Aldeia Ka’apor é invadida por madeireiros e pistoleiros

A Terra Indígena Alto Turiaçu, no Maranhão sofre com as investidas violentas de madeireiros.

Desde 2013, os Ka’apor fazem vigilância de suas terras para evitar a destruição das matas. Trilhas com maior movimento de madeireiros e caçadores estão permanentemente ocupadas com novas aldeias.

Há algumas semanas, o grupo de vigilância Ka’apor encontrou quatro invasores armados no interior da TI. Os homens foram imobilizados e expulsos. Há cinco dias, outro grupo de invasores teve quatro motos confiscadas dentro do território e posteriormente devolvidas.

Agora, os Ka’apor temem a reação de madeireiros. Relatos dão conta de que invasores armados espreitam nas estradas de acesso às aldeias. O temor é que haja uma invasão do território a qualquer momento com episódios de violência contra os Ka´apor.

Em abril de 2015, Eusébio Ka’apor foi assassinado enquanto voltava de uma visita a cidade vizinha. Desde então, a região tornou-se palco de um grave conflito. Em dezembro do ano passado um ataque a uma das aldeias dos Ka’apor deixou dois índios baleados.