Category Archives: Publicadas no FdF em 2017

Porque participar da Luta e da Resistência Indígena

Vivemos num mundo onde – para além das miragens de bem-estar e satisfação – caminha a passos frenéticos e atrapalhados rumo ao colapso e à destruição. É importante, neste contexto, lembrarmos de onde viemos, que outras formas de existir não só são possíveis como reais. Só esta memória lembra pode no mínimo embaçar o vidro da tela desta ilusão civilizada e o olhar que ela nos impõe.

São em questões como território, água, vida, ser e deixar ser. que o confronto entre os interesses da máquina civilizada e luta pela existência dos povos livres se torna mais evidente.

A máquina civilizada quer devorar tudo, em seu anseio por lucro ela coisifica e produtifica a vida. Dominar recursos e transformar tudo em mercado, declara guerra não só contra os indígenas, mas contra os interesses da vida como um todo.

O único caminho – para que não sejamos esmagados, para que não nos tornemos escravos de corpo e alma a serviço dos interesses “desenvolvimentistas” da máquina – é que é preciso conhecer e fortalecer a resistência indígena.

Nós, deserdados de uma cultura outra – alheia a este projeto que nos empurra a loucura – juntamo-nos também a resistência que é a luta pela existência de modos-de-ser que a civilização tem se empenhado em não deixar ser.

Somos todxs indixs, ou melhor, unidos contra tudo aquilo que pretendem obrigar-nos a ser. Livres, e sem o peso de culpa, de sua domesticação e moral, com que pretendem nos roubar, ao nosso espirito, e a nossa vontade, a nossa conexão com a terra, a nossa mãe…tudo o que há de sagrado.

Votorantim ameaça a vida no Rio Camaquã com reativação de mina de chumbo e zinco

Ambientalistas, indígenas e ativistas estão se articulando para barrar a ativação da mina de chumbo e zinco pela Votorantim, na localidade de Minas do Camaquã, Caçapava do Sul (RS).

A ativação desta mina pode potencialmente poluir centenas de quilômetros de um dos maiores rios da região, afetando diretamente a vida de centenas de milhares de pessoas que vivem as margens do rio, os rejeitos da mina pode tornar tóxico e contaminado uma das paisagens mais lindas do bioma pampa. Entre as várias localidades potencialmente afetadas estão três terras indígenas guarani, entre elas a Pacheca, localizada próximo a foz do Rio Camaquã. Ainda que boa parte da população da região seja contra a mineração, a Votorantim e o governo seguem apressados no processo burocrático de ativação da mina.

Outras minas controladas pela Votorantim – como a instalada no município de Vazante (MG) que contaminou pesadamente com arsênio o rio Paracatu e seus afluentes – costumam destruir fontes de água potável e contaminar o solo em vastas regiões.

Novo ataque aos mapuche pelo estado chileno

Em 8 de novembro, o estado policial chileno empreendeu um novo ataque ao povo mapuche, enviando tropas para Walmapu, na região de Tirua – sul do Chile, para perseguir e reprimir dissidentes indígenas nas localidades de Curapaillaco ,Cura Tranaquepe, Puerto Choke, Antiquina, Lleu lleu, Canihua e arredores.

Na operação foram usados caminhões blindados, helicópteros, centenas de policiais e soldados armados. Casas foram invadidas e pessoas agredidas e revistadas.

Os Mapuche responderam bloqueando estradas com árvores e sabotando a infraestrutura de controle. Na região estão as chamadas “zonas de Sacrifício” das instalações de megapapeleiras e infraestrutura para extração de recursos, em parcerias entre empresas beneficiadas como a Benetton e o estado chileno.

Os Mapuche vem lutando desde o início da colonização por seu território, nunca se submetendo aos colonizadores. Eram hostis às frentes colonialistas e as elites espanholas, e nutrem o mesmo sentimento em relação ao estado chileno e as elites de seu país. Por trás do projeto nacional chileno, reconhecem os mesmos velhos aparatos de extermínio.

Terra perderá dois terços da vida selvagem até 2020

Um relatório do grupo ambientalista WWF e da Sociedade de Zoologia de Londres divulgado em 27 de outubro indica que a vida selvagem poderá ser reduzida em 67% em todo o mundo, num período de apenas 50 anos até o final desta década.

O relatório chamado ‘Planeta Vivo’ destaca que, entre 1970 e 2012, população global de peixes, aves, mamíferos, anfíbios e répteis diminuíram 58%. Num período de 50 anos, que termina em 2020, essas populações poderão ser reduzidas em até dois terços do total!

O relatório, afirma ainda que este cenário se dá por conta da forma como as sociedades industriais exploram o planeta, a níveis sem precedentes.

A principal causa da destruição dos habitats selvagens é a agricultura extensiva. “Atualmente, a agricultura ocupa cerca de um terço da área total da Terra e é responsável por quase 70 % do uso da água”, afirma o documento.

O relatório aponta ainda para fatores como a industrialização e a urbanização como extremamente nocivos a vida selvagem.

Com níveis alarmantes de extinção, as organizações chamam atenção para evidências de que o que os cientistas chamaram de “a sexta extinção em massa” está em andamento, como mais espécies desaparecendo diariamente, hoje, do que as taxas diárias de outros processos de extinção em massa, como o que levou ao fim os dinossauros.

A luta indígena como exemplo contra o novo golpe

Como outros golpes, este golpe é uma grande reforma autoritária das leis. Como tantos outros, ele não ataca apenas os direitos indígenas, se impõe contra os interesses da maioria. E a maioria segue talvez distraída demais para se defender.

Índios manifestam na Esplanada dos Ministérios
Data: 11/11/2015 – Foto: Lucio Bernardo Junior / Câmara dos Deputados

Todos os partidos políticos, oposição e situação, parlamentares da direita e da esquerda, estão prostituídos, conspiraram a serviço de governos estrangeiros e multinacionais. O governo brasileiro, hoje como nunca, não passa de um fantoche dessas forças quase ocultas.

As metas deste golpe são destruir legalmente os direitos da maioria (e também das minorias indígenas) até submetê-las à situações de escravidão, como nas megafábricas chinesas, ou ao extermínio; legalizar a pilhagem de recursos e extensões de terra para grupos estrangeiros e multinacionais; garantir a continuidade dos grandes  privilégios de grupos políticos e empresariais.

Por valorizar e proteger seus territórios, por seus saberes ancestrais e práticas de autonomia, indígenas são contrários ao projeto golpista. Também são eles que oferecem à maioria, grandes exemplos de coragem na luta contra os golpes e tiranos: Sepé Tiarajú, Gerônimo, Búfalo Negro, Lucy Gonzales Parsons, Leonard Peltier, Emiliano Zapata, Tuíra Kaiapó e Marçal Tupã-i são só alguns dos indígenas lutadores a serem lembrados  como grandes exemplos de luta, não só por uma vida livre e digna, mas pela própria sobrevivência.

516 anos de golpes contra os indígenas

Nós indígenas estamos acostumados a lutar. São 516 anos que nos golpeiam continuamente. Desde que invadiram nossas terras, fomos apunhalados, enganados, roubados e massacrados.

Os descendentes das invasores estão aqui hoje! Geração após geração dominam através de golpes!

Golpearam nossas tradições com sua religião. Nos impuseram seus cultos à culpa, ao sofrimento, e ao progresso – tudo a serviço de seus próprios interesses. E seguiram nos golpeando, roubando nossas terras, às custas da vida e da saúde dos nossos filhos e netos, às custas da vida da própria Terra!

Eles ignoram que somos nós quem sabe o que é melhor para nós. Enxergar leva a angústia.

Mas não há como desistir, não podemos esquecer dos velhos que lutaram contra a guerra de extermínio dos europeus para estarmos aqui orgulhosos de quem somos, povos livres e não escravos desses monstros, que são as corporações e os estados. Sabemos que os valores dos nossos ancestrais estão vivos em nós, lembrando deles fortalecemos nossa Cultura da Resistência.

A maioria agora precisa lutar! Nós também estamos na luta!  Lutamos pelo que acreditamos, nos pintamos e partimos para a luta!

Baseado no texto de Potyra Tê Tupinambá

Aldeia Ka’apor é invadida por madeireiros e pistoleiros

A Terra Indígena Alto Turiaçu, no Maranhão sofre com as investidas violentas de madeireiros.

Desde 2013, os Ka’apor fazem vigilância de suas terras para evitar a destruição das matas. Trilhas com maior movimento de madeireiros e caçadores estão permanentemente ocupadas com novas aldeias.

Há algumas semanas, o grupo de vigilância Ka’apor encontrou quatro invasores armados no interior da TI. Os homens foram imobilizados e expulsos. Há cinco dias, outro grupo de invasores teve quatro motos confiscadas dentro do território e posteriormente devolvidas.

Agora, os Ka’apor temem a reação de madeireiros. Relatos dão conta de que invasores armados espreitam nas estradas de acesso às aldeias. O temor é que haja uma invasão do território a qualquer momento com episódios de violência contra os Ka´apor.

Em abril de 2015, Eusébio Ka’apor foi assassinado enquanto voltava de uma visita a cidade vizinha. Desde então, a região tornou-se palco de um grave conflito. Em dezembro do ano passado um ataque a uma das aldeias dos Ka’apor deixou dois índios baleados.

Martírio, documentário premiado exibe genocídio dos Kaiowá

Nem bem estreou e Martírio já um documentário aclamado pela crítica e pelo público. Sete vezes premiado em diferentes categorias e festivais, este documentário denúncia a tragédia vivida por um grupo kaiowá, em acampamentos precários, cansados da violência civilizada, temerosos diante da possibilidade de terem suas terras confiscadas pelo estado para beneficiar ricos fazendeiros.

Martírio é um registro importante do embate de forças desproporcionais no Mato Grosso do Sul, o choque entre a retomada dos territórios sagrados pelos Guarani Kaiowá e as políticas de genocídios, extermínio e massacres financiados por fazendeiros e empresários do agrenogócio com o aval do estado.

MARTÍRIO 162 minutos, cor, 2016, Brasil Direção: Vincent Carelli. Co-direção: Ernesto de Carvalho e Tita. Elenco/Entrevistados: Celso Aoki, Myriam Medina Aoki, Oriel Benites, Tonico Benites e comunidades Guarani Kaiowá do Mato Grosso do Sul.

Nada veio fácil para nós! São 516 anos que sofremos golpes atrás de golpes

Por Potyra Tê Tupinambá

Nós povos indígenas estamos acostumados a lutar. Nada veio fácil para nós! São 516 anos que sofremos golpes atrás de golpes. Desde a invasão desse país começamos a ser apunhalados pelos usurpadores, os que querem massacrar e tomar a força o que não os pertence. Os netos, bisnetos e tataranetos dos que comandavam as invasões e golpes daqueles tempos estão aqui hoje, continuam a comandar os golpes! Começaram nos golpeando com o pretexto da fé e hoje os golpes são em favor do desenvolvimento.

Vendo a conjuntura brasileira me dá uma certa angústia, mas depois lembro dos meus antepassados que lutaram bravamente para que hoje eu pudesse bater no peito e dizer com orgulho que sou Tupinambá e me encho de forças para seguir lutando como eles fizeram. Precisamos fortalecer a nossa Cultura da Resistência, manter vivo em nós os valores dos nossos antepassados.

Acho que os brasileiros estão sentindo um pouco do que nós sentimos há séculos… invisíveis aos poderosos que só pensam em suas artimanhas para continuar no poder. O clamor do povo não foi ouvido assim como o nosso clamor não é.

Mas nós Povos Indígenas sempre lutamos pelo que acreditamos: nos pintamos, colocamos nossos mais belos adereços e partimos para a luta! Fechamos pistas, ocupamos espaços públicos, gritamos até sermos atendidos. O povo brasileiro precisa agora lutar! Nós lutaremos também!

Fonte: Índios Online