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Os Kaingang, povo do curumim assassinado, em eterna fuga

Os Kaingang, a tribo do menino de dois anos assassinado no final do ano em Santa Catarina, peregrinam pelo litoral catarinense durante o verão para manter a tradição do artesanato. Moradores de cinco aldeias do Oeste e três do Rio Grande do Sul comercializam cestarias em Laguna, Pinheira, Garopaba, e são constantemente expulsos. De locais públicos.

No dia 8 de janeiro, índios que estão acolhidos na Casa de Passagem Indígena em Curitiba se manifestam contra morte de menino em Santa Catarina.

Os pais do menino Vitor, Sônia e Arcelino, nasceram em aldeias distintas do Rio Grande do Sul. Migraram há quase duas décadas para Condá, uma aldeia às margens do rio Uruguai, que sobreviveu à Guerra do Contestado e aos roubos de terras dos funcionários do Serviço de Proteção ao Índio.

Preencher o vazio demográfico do Oeste catarinense era um desafio para o Império, que, como solução, estimulou três ondas pioneiras: pastoril, extrativista e de expansão agrícola. Se o Oeste precisava crescer, os indígenas eram vistos como entraves.

Com as terras expropriadas, os Kaingang da Condá viviam abrigados em barracos de lona no centro da cidade até a década de 90. Na época, muitos foram espancados por moradores do município. A repulsa da sociedade fez com que fossem removidos para o local.

A aldeia Condá tem 2.300 hectares e fica na zona rural. Cerca de 800 pessoas vivem lá. O isolamento fez com que muitos indígenas sequer aprendessem o português. Eles falam Jê. Durante o inverno produzem sua arte para vender no verão. Família que ganha bem lucra no máximo 800 reais por mês. Nos meses frios o dinheiro aperta. Os pais de Vitor torciam por boas vendas no veraneio para adquirirem uma geladeira.

Os Kaingang também são alvo dos  integrantes dos Conselhos Tutelares, que vigiam o cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente, por carregarem as crianças para o trabalho. “Como vamos proibir? Eles precisam aprender nosso ofício. Meu filho não gosta de mendigar, de pedir esmola, mas vender ele adora”, disse Sônia.

Os pais de Vitor estão convictos: não deixarão de trabalhar. “É isso o que fazemos, é a nossa cultura. Se me entrego deixo de pensar nos meus filhos e netos, daí eles que terão que vencer esse preconceito. Vamos continuar lutando e as pessoas terão que nos aceitar”, disse Arcelino.

O historiador Clóvis Brighenti explica o ódio contra a etnia relacionando justamente com o trabalho. Para os imigrantes europeus, que povoaram Santa Catarina, a terra serve para produzir, para explorar. Para os Kaingang, é parte do sagrado. Assim foi construída a ideia de que os índios são vagabundos, que deixam o mato crescer ao invés de plantar. A maledicência repetida se enraizou como verdade. “Desde a escola eu já sofria. Me chamavam de suja, de bugre, de macaca. Falavam que eu morava nos matos, que era filha de vagabundos”, lembrou a vice-cacique da Condá, Márcia Rodrigues.

A intolerância, no entanto, não é novidade. Durante o Império foram criados aldeamentos para os Kaingang. Para fugir da morte, aceitavam a evangelização dos freis capuchinhos. Em 1910 foi criado o SPI (Serviço de Proteção aos Índios), transformando esses locais em reservas.

Segundo o antropólogo Diego Eltz, a partir da década de 40, com a ditadura varguista, os Kaingang sofreram um processo de expulsão das suas terras e só puderam reivindicar moradia a partir de 1988, após promulgação da Constituição.

Preencher o vazio demográfico do Oeste catarinense era um desafio para o império. E se o Oeste precisava crescer, os indígenas eram vistos como entraves

O Relatório Figueiredo, desaparecido por 45 anos, apurou essas matanças e torturas. Supostamente eliminado em um incêndio no Ministério da Agricultura, o documento foi encontrado no Museu do Índio, no Rio de Janeiro, com mais de 7.000 páginas preservadas, em abril de 2013. Em um dos trechos, o relator Jader de Figueiredo descreve sua indignação:

“É espantoso que existe na estrutura administrativa do país repartição que haja descido a tão baixos padrões de decência. E que haja funcionários públicos cuja bestialidade tenha atingido tais requintes de perversidade. Vendera-me crianças indefesas para servir aos instintos de indivíduos desumanos. A fertilidade de sua cruenta história registra até crucificações, os castigos físicos eram considerados fatos normais nos Postos Indígenas. Os espancamentos, independentes da idade ou sexo, participavam da rotina e só chamavam atenção quando, aplicados de modo exagerado, ocasionavam a invalidez ou a morte. Havia uns que requisitavam a perversidade, obrigando pessoas a castigarem seus entes queridos. Via-se, então filhos baterem em mães, irmão espancar irmã. O tronco, era todavia, o mais encontradiço de todos os castigos. Consistia na trituração dos tornozelos da vítima”.

A SPI tinha 130 postos em 18 Estados brasileiros e foi extinta em 1967, dando origem a Funai (Fundação Nacional do Índio). Além da vida, os Kaingang perderam terras em todo seu território, que compreende os três Estados do Sul e São Paulo. Brighenti explica: “Os indígenas representam o passado que incomoda. Aqueles que não deveriam mais existir”.

Atropelamentos

O Conselho Indigenista Brasileiro (CIMI), braço da Igreja Católica que milita na causa indígena, continua a denunciar violências agudas. Em 2015, sete Kaingang foram atropelados em estradas gaúchas e catarinenses. Morreram sem socorro. Em setembro de 2014, uma população enraivecida do município de Erval Grande, no Rio Grande do Sul, expulsou 45 indígenas acampados às margens de uma rodovia estadual. Com apoio da Polícia Militar, sem ordem judicial e sem o conhecimento da Funai, centenas de moradores foram ao acampamento dos Kaingang e obrigaram os indígenas a embarcar num ônibus que os transportou para a cidade de Passo Fundo, a mais de 140 km de distância.

Na madrugada do dia 17 de novembro do mesmo ano, a Polícia Federal e a PM ocuparam a estrada em frente à comunidade Kaingang de Kandóia, no município de Faxinalzinho, Rio Grande do Sul. Vieram 200 soldados munidos com armamento pesado, cavalaria, 70 viaturas, helicópteros e cães policiais. Foi uma caçada.

Há ainda casos célebres. Em 1984, uma mulher Kaingang foi encontrada morta, com um pedaço de taquara transpassando seu corpo – da vagina à boca. Seu corpo foi encontrado nas proximidades da cidade de Tenente Portela (RS). O autor do crime, um proprietário de terras da região, confessou pouco antes de morrer a autoria. Justificou ter sido motivado pelo ódio que sentia dos índios.

No sétimo dia do assassinato de Vitor outro indiozinho morreu, desta vez de fome. Jadson Batista Lopes, um ano, foi enterrado na aldeia Kurussu Ambá, no Mato Grosso do Sul. Desde 2007, cinco crianças morreram na aldeia por desnutrição. O mais velho tinha cinco anos. De acordo com a Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena), a falta de alimentação matou quase 600 crianças indígenas nos últimos dez anos. Nas estatísticas, metade da mortalidade infantil no país é ocupada por índios, mesmo que eles representem apenas 0,4% da população.

Fonte: El País

Kerexu, a cacica ameaçada de morte que tenta salvar sua aldeia

Aprovação parcial da PEC 215 motivou ataques a região onde vive líder indígena

Kerexu avisou: “vamos ter que nos preparar”. Não deu tempo. Três dias após a PEC 215 ser aprovada em comissão especial no Congresso no final de outubro, a cacica Guarani foi ameaçada de morte. Trinta homens atacaram a aldeia Itaty, liderada por Kerexu, situada no Morro dos Cavalos, no município de Palhoça, a 30 quilômetros de Florianópolis, no sul do Brasil. As 39 famílias que vivem ali testemunharam a entrada de um caminhão, duas motos e 10 carros. Os estranhos dispararam para o alto com revólveres, soltaram rojões, disseram que iriam expulsar as famílias, invadiram uma casa e, se autointitulando donos do pedaço, fizeram churrasco, com direito a música alta.

Cacica Kerexu, ameaçada de morte com avanço da PEC 215

Para a cacica Kerexu, o recado foi curto. Ela está na mira. Os homens não foram identificados e apesar de quatro deles terem passado a noite na aldeia, a Polícia Federal não os prendeu e apenas os retirou por insistência da procuradora da República Analúcia Hartmann. O argumento dos invasores foi que se a PEC iria tirar os indígenas dali, eles poderiam antecipar o serviço.

Essa não foi a primeira ameaça do ano. Há dois meses, motoqueiros entraram em Itaty disparando. A aldeia é habitada principalmente por crianças e adolescentes, que representam 60% do grupo. O alvo foi a casa de Kerexu, onde vivem seus dois filhos Karaí, 9 anos, e Rayana, 14 anos. Também não foram poucos os telefonemas anônimos que a juraram de morte.

Itaty está situada no quilômetro 233 da BR-101, onde uma passarela conecta as 39 famílias, que sofrem o peso das manobras no Congresso para enfraquecer o direito a seu espaço. Uma Comissão Parlamentar de Inquérito, pautada pela bancada ruralista e autorizada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) no dia 28 de outubro, foi instalada um dia após a aprovação da PEC-215, que propõe uma manobra à Constituição para delegar justamente aos deputados a competência de julgar a demarcação de terras indígenas, quilombolas e reservas ambientais brasileiras.

O foco da CPI é investigar as ações da Fundação Nacional do Índio (Funai) e do Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra), algo visto com enorme preocupação por colocar em risco uma legislação que reconhece o direito indígena, que avançou com muita dificuldade.

E os Guaranis, que por meio da dança, espantam os maus espíritos, sabem bem disso. Desde a fundação dos mitos, o espírito mais perverso entre eles se chama Anha, o demônio. Mas Anha perdeu seu posto recentemente para a PEC 215, também chamada pelos índios de “PEC da morte”.

Deputados catarinenses e o Governo do Estado questionam a permanência dos Guarani nas terras de 1988 hectares entre a ponte do rio Massiambu e a ponte do rio do Brito. Ignoram 23 anos de processos vencidos em todas as instâncias jurídicas e o reconhecimento do Ministério da Justiça, publicado em abril de 2008.

Durante 30 anos, pesquisadores da Associação Brasileira de Antropologia (ABA), a principal instituição científica do país, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Universidade de Brasília (UNB) publicaram estudos históricos, fundiários, cartográficos, ambientais e antropológicos sobre o Morro dos Cavalos. Há 978 artigos científicos nas bibliotecas virtuais desses centros de ensino sobre a existência legal e legítima da região indígena e suas raízes ancestrais ali. Mas, bastou um único laudo, escrito por um antropólogo contratado pelos latifundiários, para exibir como trunfo em meio à CPI. Um laudo que sugere que não são índios de verdade, mas trazidos do Paraguai.

Na ponta mais fraca, quem segura a pressão é a indígena baixinha de pele amorenada, longos cabelos pretos e olhos sestrosos. Kerexu Ixapyry, 35 anos, foi nomeada a primeira cacica do Morro dos Cavalos em fevereiro de 2012. Sua fala é mansa e pausada e apesar da aparente calma, não dobra a espinha. Se quase 70.000 homens lideram suas tribos no Brasil, ela é uma das 12 cacicas, gênero feminino do cacique.

Kerexu é conhecida por exibir seu alto cocar de penas vermelhas, amarelas e azuis nos grandes encontros em Brasília, reunida entre lideranças masculinas de outras etnias, dispostos todos a sair da invisibilidade em que vivem. Se antes ela não passava despercebida entre os seus, atualmente é conhecida como a primeira vítima das brutalidades que serão desencadeadas caso a PEC 215 vigore.

Os homens que invadiram a aldeia faziam tortura psicológica entre os seus. “Me falaram que fomos trazidos do Paraguai, que a CPI vai tirar nossas terras. Eu nunca tinha visto eles. Se alguém falasse alguma coisa teria morte, eles tinham ódio. Fiquei quieto, só ouvi. Não duvido que numa noite qualquer alguém entre atirando e mate todo mundo”, disse Verá Ixapyry, 22 anos, irmão da cacique, que mora ao lado da casa que foi invadida. Kerexu resiste, mas também fraqueja. “Às vezes me sinto na beira de um abismo, onde me propõem: pula ou te empurramos”, diz.

Na aldeia, ouve-se o barulho dos caminhões mais do que dos pássaros. A terra Guarani foi cortada ao meio pelos militares durante a construção da BR-101, a maior rodovia brasileira, que liga o Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte em 4.542 km de extensão. Desde então, a estrada é vista como progresso. E os índios que vivem às suas margens têm a pecha de representarem o atraso.

Dos 21 deputados que votaram a favor da PEC 215, dois são catarinenses. Valdir Colatto (PMDB), uma das principais lideranças pela revogação do Estatuto do Desarmamento, foi financiado pela indústria armamentista e recebeu 36,9% do dinheiro de sua campanha do agronegócio, de acordo com dados do Instituto da Justiça Federal.

Jovem indígena com bebê no colo às margens da BR-101
Jovem indígena com bebê no colo às margens da BR-101 C.Weinman

Os índios Guarani da aldeia Itaty, no Morro dos Cavalos, vivem à margem da BR-101, desde que a estrada construída na época do Governo militar cortou suas terras ao meio.

Celso Maldaner recebeu 15%. Ele explicou o incentivo financeiro pela defesa que faz aos agricultores do Oeste catarinense. “Eles compraram terras na boa fé e agora tem que entregá-las aos índios, não é justo”, disse. Sobre os indígenas do Morro dos Cavalos, ele sugere que eles sejam paraguaios, trazidos por ONGs para faturar verbas da União.

Por fim, defende que a PEC seja benéfica aos indígenas. “Eles vão poder explorar a terra, os minérios, construir hidrelétricas ou arrendar o que têm. Afinal, precisam de dinheiro. Ninguém gosta de viver no miserê”. O Morro dos Cavalos faz parte da unidade de conservação Serra do Tabuleiro, onde há 2.292 nascentes e o mais diverso bioma do Estado.

Colatto não quis conversar com a reportagem. Em seu discurso, durante a votação, afirmou que os indígenas catarinenses eram favoráveis à PEC. Essa versão foi desmentida por meio de carta aberta divulgada pelas três etnias catarinenses, Guarani, Xokleng e Kaingang.

Apesar de viver com pouco, os Guarani não vestem a carapuça da pobreza que lhes empregam. “Nhanderú disse: ‘Vocês vão morar nessa terra e vão proteger ela’. Esse é o nosso destino. Não queremos terra para vender. Terra é de Nhanderú, não pode ser vendida. Ela está viva, todos os seres que a habitam são nossos parentes. Essa é nossa riqueza, não nos preocupamos com outros bens materiais”, disse Tupã Karaí, 60 anos, xamã da Itaty.

Tupã mora na casa mais alta do lado esquerdo da BR-101 com a mulher, as duas filhas, os genros, cinco netos e muitos cachorros. Sua pele morena é talhada pelo tempo, as mãos parecem cascas de árvores, ele só não sorri para tirar fotos, no mais, é pura gentileza.

Além das rezas, é responsável pela preservação das sementes crioulas do milho, repassadas de gerações em gerações há milênios. Tupã planta milho vermelho, preto, roxo, amarelo, com pintas. Entre agosto e setembro de cada ano colhe as sementes e as leva à opy (casa de reza) para serem consagradas por Nhanderú.

Celebra-se então o Ara Pyau, ano novo Guarani, novo ciclo de renovação da Mãe Terra. Os recém-nascidos são batizados, recebem seus nomes espirituais, soprados pelos ancestrais desencarnados através da fumaça do Petyngua (cachimbo sagrado). Esse rito chama-se Nhemongarai (consagração e batismo) e envolve as pessoas da comunidade e também de outras aldeias que trazem seus alimentos para somar ao plantio.

Aldeias próximas a Itaty plantam feijão preto, abóbora e erva mate. Paralelamente, ao Nhemongarai é praticado o Guatá, a caminhada que traz fertilidade a terra. O ritual permite que as aldeias se visitem e mantenham a sensação de unidade. Quando um índio chega com sementes é recebido com festa e decide se quer partir novamente para sua aldeia. Muitos ficam. Kerexu morou em 10 aldeias antes de liderar a Itaty.

Esse rito principal é o mais atacado. O deputado federal Alceu Moreira (PMDB – RS) crê que “esse ir e vir é só para aumentar terra para índio”. Nos seus depoimentos ele defende que os indígenas invadem fazendas e aos poucos se somam para tomá-las. A fraude seria orquestrada pelo CIMI, que segundo sua visão, estaria a serviço da inteligência norte-americana europeia para não permitir a expansão das fronteiras agrícolas do Brasil. Moreira foi um dos principais articuladores pela redução da proteção das matas com a flexibilização do Código Florestal em 2012. Votou a favor da PEC 215 e é presidente da CPI da Funai.

Ao seu lado está o coordenador da Frente Parlamentar de Agropecuária, deputado federal Luís Carlos Heinze (PP-RS), como vice-presidente da CPI. Ficou famoso em 2013 ao definir, durante uma reunião de uma Comissão, que “quilombolas, índios, gays e lésbicas… tudo que não presta estão aninhados [no gabinete de Gilberto Carvalho, então ministro da Secretaria Geral da Presidência, do primeiro mandato de Dilma] ”. Na mesma comissão, Moreira chamou a demarcação de índios e quilombolas de “vigarice” e disse que Carvalho estava no comando.

Fonte: El País

 

Vitor Kaingang 2 anos degolado em via pública

No dia 30 de dezembro de 2015, Sonia viu seu bebê ser degolado por um branco após um falso carinho,na rodoviária de Imbituba, Santa Catarina.

Imaginar sua dor é difícil. O que fazer diante desta desta brutalidade civilizada? Vitor morreu em seus braços em meio à via pública. Mateus de Ávila Vieira é o nome do matador de Vitor. Jovem de alta classe, Mateus é produto de uma civilização doentia.

Indícios dessa doença estão no silêncio cúmplice de muitos setores da sociedade não indígena, e mesmo aqueles que deveriam informar, as mídias comerciais.

Fazendeiros, políticos e empresários tenham talvez comemorado com discrição, vendo seus discursos de ódio se transformar em prática. A faca que cortou a garganta de Vitor foi empunhada por muitas mãos.Nossa total solidariedade e apoio à família de Vitor Kaingang Pinto e a todos os indígenas que diante das punhaladas (de racistas covardes), da dor e do luto, abraçam a vida e se agarram à luta.

Evento de Solidariedade aos Kaiowá Guarani

Contra o Genocídio dos KaiowáProposta: Evento em solidariedade aos Kaiowá Guarani contra as políticas do genocídio produzidas pelo agronegócio e o Estado. Anos após anos, os Kaiowá vem sendo assassinados por ruralistas, ainda que desterrados de suas terras homologadas, não se cansam de lutar, continuamente correndo perigo da morte. Há alguns meses Simião Vilhalva foi assassinado por pistoleiros a mando dos ruralistas, crianças e mulheres grávidas foram estupradas.

Atividade: Nos reunimos no dia 6 de novembro no instituto Parhesia para assistir vídeos sobre os Kaiowá na internet, e lemos seus relatos, com videos do aparato repressor invadindo terras indígenas, para proteger ruralistas e matadores de aluguel. Debatemos quais seriam formas de expressar solidariedade com os Kaiowá que vão além das palavras.

Ação: Fomentar frente de informação e solidariedade aos Kaiowá em círculos de relações, para envio de apoio efetivo.

PEC 215: O genocídio legalizado

106420042012101554Desde os anos 2000 a Proposta de Emenda Constitucional 215 (PEC215) ameaça o futuro dos povos indígenas. No dia 28 de outubro esta lei criada para benefício dos ruralistas acaba de ser aprovada na Câmara dos Deputados, em Brasília. A PEC215 acaba com qualquer possibilidade futura de demarcação de terras para os povos indígenas, e ainda abre espaço para o revisão de ajuste constitucional implicando na perda de territórios já homologados.

Os processos de ampliação de areas também se tornam inviáveis. A aprovação da PEC215 é a mais clara evidência de como o estado de direito funciona em benefício das elites ruralistas. Para iludir os indígenas inventam direitos que seriam inalienáveis para, no momento conveniente, acabar com os direitos que propriamente não convém aos interesses dessas elites.

Essa política genocida se dá em paralelo com a exterminação das nossas grandes florestas, seja em benefícios de multinacionais, seja em benefício de grandes proprietários rurais que atuam em nome de seu próprio “progresso”. Chega de manipulação! Chega de discurso pacificador e tranquilizador, passividade e submissão é morte!

Somente autonomia, autodeterminação e autodefesa podem garantir a existência dos povos indígenas. Para a autonomia o único caminho é a luta!

 

“Com PEC 215 ou sem PEC 215 continuaremos a fazer as autodemarcações com apoio de nossos Aliados e, acima de tudo, de nossos Encantados e Ancestrais. Somos Abas Gwarinis Atãs (Guerreiros  Fortes)”. Casé Angatu, professor Tupinambá

Marchas e encontros contra a PEC 215

Estão acontecendo marchas e bloqueios de ruas e rodovias por todo o Brasil desde a aprovação da PEC 215 na Câmara. Pesquise na internet o local e data dos próximos eventos e participe das manifestações organizadas na sua região.

  • Cidades – Locais de concentração – Horários
  • Belo Horizonte – Praça Sete – 17hs
  • Brasília – Torre da TV – 10hs
  • Porto Alegre – Esquina Democrática – 14hs
  • São Paulo – Paulista (MASP) – 17hs
  • Recife – Praça do Derby – 16hs
  • Rio de Janeiro – Aldeia Maracanã – 16hs

Sobre os Jogos Mundiais Indígenas do estado brasileiro

Civilizações sempre buscaram criar formas de distração para os povos subjugados para que não se revoltassem. Criar arenas para jogos há mais de 2000 anos é uma estratégia de guerra das civilizações. Os Romanos controlam os territórios que invadia obrigando os povos subjulgados a frequentar as arenas, casas de jogos e coliseus que construía. Não foram poucos povos que caíram nessa armadilha civilizada.

O governo brasileiro organizou para este ano os Jogos Mundiais Indígenas. Aconteceu na cidade de Palma (TO) a partir do dia 23 de outubro deste ano. Os jogos foram marcados por protestos e a maioria dos povos indígenas buscou convencer seus parentes a não participar dos jogos.

Com os jogos o estado brasileiro tenta encobrir sua intenção e legislação genocida. Quer que o resto do mundo veja com têm sob seu controle as populações indígenas que submete. Fabricam a ilusão de que todos os povos ameríndios estão satisfeitos, que foram atendidas todas suas demandas. Escondem o fato do Brasil estar adotando uma legislação que cada vez mais genocida e fascista que ameaça a existência das novas gerações.

A consciência nos leva a repudiar toda forma de distração estatal. Somos contrários a realização de novos jogos mundiais indígenas, e seguiremos sendo até que todas as demandas indígenas e quilombolas por terra e dignidade sejam atendidas!

Leonard Peltier: um guerreiro há 40 anos na prisão

Leonard Peltier é um sábio do aguerrido povo Lakota Sioux. Peltier também faz parte do Movimento Indígena Americano (AIM). Este indígena tem sobrevivido de cabeça erguida a mais de 40 anos de prisão.  Sentenciado em 1975 pelo assassinato de dois agentes do FBI no Incidente em Oglala em Wounded Knee, seu nome está na longa lista de indígenas encarcerados pelo governo dos EUA por lutarem por seus povos contra o sistema colonial americano racista. Sua prisão está ligada também a oposição do AIM a caciques corrompidos pela colonização como Richard Wilson, traidores que enriqueceram enquanto seus parentes passam fome, com milícias montadas para perseguir quem discorda ou não se submete ao seu autoritarismo. Os inimigos de Peltier pensaram que poderiam calar sua voz isolando-o em uma jaula. Mas o confinamento só aumentou o fogo em suas palavras. Hoje ele é mundialmente conhecido como guerreiro das causas indígena e anticarcerária. Em 2000 publicou o livro “Escritos na Prisão: Minha Vida é Minha Dança do Sol” (Prison Writings: My Life Is My Sun Dance) com sua história, sua luta por terra e justiça. Para saber mais sobre a história dos Sioux Oglala leia “Enterrem meu coração na curva do rio”. Sobre a história de Leonard Peltier, assista o documentário “Incidente em Oglala”.

Não sei como salvar o mundo. Não tenho as respostas para esta questão. Não guardo nenhum saber secreto de como consertar os erros das gerações passadas e presentes. Só sei que sem compaixão e respeito por todos os seres da Terra, nenhum de nós sobreviverá – nem merecerá sobreviver.” – Leonard Peltier

Todos firmes contra o IIRSAA

 

 

 

 

Lançada em 2000 a Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (IIRSAA) é um programa conjunto de 12 estados da América do Sul para promover o avanço do capitalismo industrial no continente sul-americano. A tal “iniciativa” tem sido uma verdadeira hecatombe para os povos ameríndios. A construção de novas estradas, hidroelétricas, polos industriais e usinas nucleares vem ameaçando povos inteiros colocando em risco modos de vida milenares. A parte brasileira do IIRSAA recebeu que recebeu o nome de Plano de Aceleração do Crescimento (PAC). As “melhorias” do PAC vem destruindo territórios indígenas e ameaçando culturas em muitos cantos do país.

Nós somos radicalmente contra o IIRSAA e o PAC por sabermos que tudo está sendo feito para enriquecer uns poucos em detrimento dos povos ameríndios e a vida na Terra. Em favor da autodemarcação, da autodefesa e da autonomia territorial indígena!

Jovem Terena é baleado durante tentativa de homicídio em Miranda no Mato Grosso do Sul

indigena_atentado-a-paulino-lunae_cimiO jovem indígena Jolinel foi baleado com três tiros, no município de Miranda no final da tarde desta sexta-feira (29), durante um confronto com fazendeiros entre a Retomada Mãe Terra do Povo Terena e Charqueado em Mato Grosso do Sul.

Com risco de vida foi levado para Campo Grande. Um grupo de cerca de 150 indígenas Terena foram na delegacia da região exigir justiça, acusaram um fazendeiro da região conhecido como Amaral de tentativa de homicídio.

Fonte: http://radioyande.com/default.php?pagina=blog.php&