Category Archives: Violência Policial

[México] Pronunciamento libertário em solidariedade aos povos do Istmo de Tehuantepec

“Loshombres no pueden pensar en ser autónomos hasta que no se dé un gobierno hecho por ellos, un gobierno que no sea sobre el pueblo o a favor
del pueblo, sino un gobierno hecho por el pueblo. De esta forma las órdenes de este gobierno serán legítimas porque será el pueblo mismo quien las ha dado. Se tratará, según esta concepción, del paso del concepto de autonomía
del individuo al concepto de autonomía colectiva de individuos” - Alfredo María Bonanno “No podréis pararnos: La lucha anarquista revolucionaria en Italia”

Aos meios de comunicação Livres e Autônomos
Aos povos em luta Esta jornada será longa, dura e com raiva!

Os defensores e falsos críticos do sistema capitalista querem dominar e devastar tudo, até mesmo o menor espaço do globo, mas a resposta é e será contundente. Não diálogo nem mediação! Assim foi decidido e empregado por alguns povos na geografia Mexicana, assim se manifestaram nossos irmãos zapotecas dos corajosos povos de Ghi'xhi'ro' [Álvaro Obregón] e os Ikoots
dos povos de San Mateo e San Dionisio del Mar.

Mas a situação é complicada, o caminho da autonomia não é nem será fácil. A
 necessidade de viver sem a mediação do Estado, sem as instituições do mesmo, sem partidos políticos, mas acima de tudo, sempre optando pelo
caminho do apoio mútuo e da coletividade CUSTAM mais do que poderíamos imaginar. Mas esse é o ponto. TUDO OU NADA. TERRA, LIBERDADE OU MORTE, é a utopia pela qual tanto aspiramos e que estamos construindo neste exato momento.

Ontem, 13 de dezembro, por volta das 23h45, aproximadamente 1000 elementos da polícia estadual entraram no povoado de San Dionisio del Mar com a intenção de levar a cabo eleições locais [que pretende realizar neste domingo, 14 de dezembro] que a Assembléia do povo de San Dionisio del Mar já tinha boicotado, pela simples razão de trazer um novo mundo em seu
coração e recuperar as formas ancestrais de organização baseadas no apoio mútuo, na coletividade e na assembleia como o órgão máximo de decisão.

O que vem a seguir é incerto, podemos prever um cenário de ataque por parte da polícia [pois esse é o seu trabalho], mas também enxergamos uma
autodefesa eminente do povo. Aconteça o que acontecer estaremos com vocês, lado a lado, defendendo os processos autônomos, a gente com vocês, vocês com a gente, cara a cara com o inimigo, desde qualquer trincheira, desde
Oaxaca capital até o Distrito Federal faremos ecoar os gritos de solidariedade.

A autonomia incomoda o Estado e o Capital, é por isso que, com todos os meios à sua disposição tentarão esmagar qualquer tentativa de organização horizontal e autônoma. Mas também de nossa parte, com todos os meios possíveis e ao nosso alcance, defenderemos a nossa luta e os processos que, como libertários, temos construído juntas e juntos e ao lado dos povos.

Solidariedade com a Assembleia do povo San Dionisio del Mar!
Solidariedade com a Assembleia comunitária de Ghi'xhi'ro'- Álvaro Obregón!
Solidariedade com os povos autônomos e em luta!
Fora Megaprojetos do país!


Contra o Estado-Capital!
Com a rebeldia defenderemos a autonomia!
A paz entre os povos, Viva a anarquia!
14 de dezembro, Oaxaca Ingovernável


Coletivos:
BARRO negro
Bloque Autónomo de Conciencia Revolucionaria
Proyecto ambulante
Cruz Negra Anarquista México
Individuxs Solidarios del auditorio “Che Guevara”
Regeneración Radio

Incidente em Kandóia: Violência e cerco policial

Em 17 de Novembro de 2014, a aldeia kaingang de Kandóia – formada por cerca de 200 pessoas, muitas delas, crianças – foi invadida por um efetivo de guerra do estado brasileiro. Um verdadeiro cerco militar e federal foi armado contra esta comunidade em uma operação que recebeu o seu nome.

Esta operação foi relatada por outros kaingang como uma ação de provocação. Este exemplo de terrorismo estatal contra populações indígenas teve também como meta abalar a luta kaingang pela retomada de suas terras na região.

A ação colonial mobilizou setenta viaturas, helicópteros e caminhões de bombeiro. As tropas formadas de 20 policiais federais, 280 homens do Batalhão de Operações Especiais (BOE), armados e acompanhados de cães e de cavalos foram assistidas por autoridades locais, entre elas o “senhor” Carlos Eduardo Raddatz Cruz, atual procurador da república do município de Erechim.

operacaoKandoiaPoliciais e peritos invadiram as casas á 6 da manha e coletaram a força amostras de sangue e saliva de vários membros da comunidade. Todos os homens e adolescentes foram fichados e fotografados sem qualquer mandato. Uma das metas da operação pareceu ser a de coletar evidências contra os supostos executores dos pistoleiros.

Em 27 de abril deste mesmo ano, dois pistoleiros que haviam seqüestrado uma criança kaingang foram mortos na ação de libertação promovida pelos indígenas. A grande mídia não reportou nada sobre este sequestro, e transformou em “produtores” seus noticiários esses dois bandidos. Com a finalidade de criminalizar os indígenas e garantir a adesão dos pequenos proprietários da região.

A máquina colonial e etnocida do estado policial brasileiro age abertamente pelo extermínio das populações indígenas em luta pela sobrevivência, na defesa dos interesses dos fazendeiros monocultores. As políticas de terror perpetradas em Kandóia demonstram o desprezo do poder pelos procedimentos legais com que são tratados populações indígenas cujos direitos originários pre-existem ao surgimento deste e de qualquer outro estado.

Não ficaremos caladxs diante desta ação criminosa a serviço do poder! Kandóia está viva e faz parte da luta kaingang por um futuro digno para suas crianças. Os kaingang de Kandóia pedem a todxs que se mobilizem, que não os deixem ser massacradxs, que não fechem os olhos diante desta enorme injustiça!

Enquanto o estado brasileiro persegue e ameaça os kaingang por defender formas de viver e se relacionar com a terra, a nossa solidariedade se faz necessária, sua luta não será esquecida!

Solidariedade aos Kaingangs presos acusados da morte de dois agricultores

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Retirado de Cumplicidade:

O mundo deles (os brancos) é quadrado, eles moram em casas que parecem caixas, trabalham dentro de outras caixas, e para irem de uma caixa à outra, entram em caixas que andam. Eles veem tudo separado, porque são o Povo das Caixas….”
(frase de um pajé do povo Kaingang)

Se você já assistiu alguns filmes de velho oeste não vai se surpreender com os recentes acontecimentos no interior do estado do Rio Grande do Sul. A luta pela terra alcançou um cenário de guerra na qual o governo assumiu claramente a sua posição de inimigo dos indígenas. Não que a sua posição não fosse essa mesma anteriormente, mas pelo menos a escondia atrás de discursos hipócritas como o do “multiculturalismo” que foi fomentado por uma série de leis e decretos “pró índio” que nunca foram respeitados, como é o caso da constituição federal de 1988.

Na noite de 27 de abril, alguns Kaingang que moram na terra indígena Passo Grande do Rio Forquilha localizado em Sananduva (RS) ocuparam o salão paroquial da capela de Bom Conselho e parte de uma área, onde residem alguns agricultores. Anunciaram que não sairão mais de sua terra ancestral. Ao mesmo tempo, indígenas Kaingang residentes na terra indígena Kandóia, localizada no município de Faxinalzinho, bloquearam estradas que cortam suas terras com o intuito de exigir a demarcação das suas terras. O conflito em Sananduva e em muitas partes do RS ocupadas pelos colonos tem uma larga historia. Mais recentemente, no dia 30 de agosto, em Porto Alegre, os kaingang mostraram o seu desconforto com as políticas publicas e a hipocrisia do governo, se rebelaram com pedras, lanças e flechas em frente ao palácio Piratini, onde um policial foi mandado para hospital assim como uma dezena de crianças indígenas e 4 dos seus mais velhos. Alguns dias depois, numa reunião que teve lugar no ministério publico federal, os kaingang prometeram aos governantes a intranquilidade dos seus sonhos. “Vocês nos fizeram sonhar, agora os nossos sonhos vão virar os seus piores pesadelos”, um grito lançado do sangue no olho de um de eles. E ainda no ano passado em fins de Novembro, alguns kaingang entraram nas terras do ex-prefeito de Vicente Dutra com a vontade de retomar suas terras, onde um carro policial foi atingido por pedradas e a casa do guardião do balneário foi queimada, mandando ele pelo hospital. (ver http://cumplicidade.noblogs.org/?p=712).

Segundo o relato do CIMI(http://cimi.org.br/site/pt-br/index.php?system=news&action=read&id=7509 e http://cimi.org.br/site/pt-br/index.php?system=news&action=read&id=7518), durante o protesto dos Kaingang em Faxinalzinho aconteceu um conflito envolvendo os indígenas que bloqueavam uma das estradas e um grupo de agricultores, que pretendiam afastar à força os indígenas e liberar a via. Numa tentativa de romper com o bloqueio, segundo relato de alguns Kaingang, um menino foi levado como refém por dois homens que estavam num caminhão carregado de ração. Na perseguição, para resgatar o menino, houve um confronto e os dois ocupantes do caminhão acabaram mortos.

Na sexta passada, dia 9 de maio, sete Kaingang foram presos pela Polícia Federal, numa emboscada, enquanto participavam de “reunião” promovida por representantes do Governo do Rio Grande do Sul e pela Fundação Nacional do Índio (Funai) no município de Faxinalzinho. Por agora, soubemos o nome de somente cinco, entre eles se encontram Deoclides de Paula, Daniel Rodrigues Forte, Nelson Reko de Oliveira, Celinho de Oliveira e Delmiro de Paula. Foram levados de noite a Porto Alegre e ficaram recolhidos na carceragem da superintendência da Polícia Federal até por volta das 11 horas deste sábado(10/05). A Polícia Federal transferiu os sete indígenas, no final da manhã deste sábado, para o presídio de Jacuí, em Charqueadas no interior do RS após os mesmos terem recebido visita de advogado da Frente Nacional Quilombola e de missionário do Cimi.

Enquanto isso, os milicos invadiram a cidade de Vicentre Dutra (onde ocorreu o conflito em novembro passado).

A respeito das mortes dos fazendeiros, não vamos chorá-las, foram anunciadas faz muito tempo, e está claro que as estratégias do Estado para conter a paz social já não servem, há meses alguns kaingang prometeram ao governo que iam se encarregar eles mesmos de demarcar as suas terras já que não podiam contar com o governo para isso… Por um lado, nos enche o coração de força vivenciar esses momentos, sentir como, com tantos anos e estratégias retorcidas de colonização constante, algumas pessoas ainda encontram maneiras de enfrentar e desafiar a posição de dominado na qual foram colocados tanto pelos que pretendem apaziguá-los como pelos que pretendem “ajudá-los” . Por outro lado, as estratégias coloniais do Estado de tomar presos os kaingang tendo-lhes armado uma emboscada somente reforça a nossa convicção que a única maneira de viver livre se encontra fora do alcance do Estado. Pois, além de uma guerra econômica, os indígenas estão enfrentando também uma guerra ideológica, na qual o governo tem avançado em vários pontos com estratégias e pantalhas de “integração” do índio na “sociedade nacional”, conceitos que se reduzem a velhos processos de assimilação do outro com a finalidade de acabar com a diferença. É assim que, devolver as terras para os indígenas significaria também permitir que recuperem maneiras autônomas de viver e se relacionar, sem a necessidade do Estado. O que o Estado quer, com os indígenas, com os negros, com os pobres e com todos nós é que fiquemos a sua mercê, dependendo das migalhas que nos oferece e que assim esqueçamos que nós mesmos somos capazes de construir nossas vidas com nossas próprias mãos. As ofensivas de alguns kaingang nos últimos meses são atos de rebeldia frente a essas formas de colonização e a prisão é uma consequência, já que a sua função é manter a “ordem social” trancando qualquer ímpeto de liberdade.

A guerra contra o Estado e o agronegócio está declarada e não é de hoje, saudamos os ímpetos de liberdade dos kaingang em luta e solidarizamos com os kaingang presos e os que assumem uma posição guerreira. Que o terror invada as cidades, as fazendas, e que os sonhos de todos os destruidores da terra sejam perturbados, invadidos pela força raivosa de quem não abaixa a cabeça e se mantém firme em guerra!

Tocam a um, tocam a todos!