Sobre assassinatos de docentes indígenas no Brasil

No último dia 8 de março o professor Carlos Alberto Domingos Kaxinawá, do povo Huni Kui foi morto a tijoladas em Santa Rosa do Purus, no Amazonas. Este não é um caso isolado. No Brasil, de norte a sul, o número de homicídios de docentes indígenas não pára de crescer.

Em 7 de novembro de 2014 o professor Davi Limeira de Oliveira, do povo Kaingang foi assassinado a tiros na cidade de Vicente Dutra, Rio Grande do Sul. Em  25 de agosto de 2014 o professor Roressi Madija Kulina foi assassinado a facadas em um campo de futebol na cidade de Juruá, no Acre. E estes são somente alguns dos assassinados ocorridos no último ano. Qualquer um que pesquisar assassinato de professores indígenas descobrirá que este também não é um fenômeno recente.

Assim como em outros países da América em que os povos originários lutam para garantir a continuidade de seus modos de vida, e a integridade de seus territórios, em terras brasileiras a matança de professores faz parte da estratégia antiindígena. São os professores aqueles que melhor compreendem os idiomas nacionais e os costumes das populações civilizadas. São eles capazes de entender também as armadilhas das políticas estatais e os códigos legais. Devido a esse conhecimento, entre muitos povos, são os professores que atuam politicamente como porta-voz de seus grupos, levando em conta também as palavras dos anciãos, no fronte de reivindicações dos direitos.

Os professores indígenas também têm a função de preparar as novas gerações para lidar com a ameaça que lhes impõem as nações civilizadas. Esta preparação é lenta e relacional, demanda tempo e diálogo entre os parentes. Quando um professor é morto as novas gerações (que geralmente também fazem parte de sua família) deixam de contar com o conhecimento e a experiência acumulados sobre os não índios. Ambos são fundamentais para lidar em diferença esferas com a intensão etnocida antiindígena.

Convenientemente ignoradas pelas autoridades e pelos agentes da mídia de massa, estas mortes são lembradas na historia oral, gerando entre os parentes uma ferida que não cicatriza. A certeza de impunidade, a farsa da justiça, tudo contribui para que a violência civilizada imputada sobre as populações indígenas passe desapercebida pela massa de cidadãos distraídos.

De nada adianta implorar por justiça ao estado democrático de “direitos”, quando este estado, através de sua morosidade e resignação, não cessa de colaborar com estas políticas antiindígenas de extermínio. Neste cenário de etnocídio mal disfarçado que é hoje a realidade indígena no Brasil, a autodefesa, reconhecidamente um direito originário, parece ser a única forma de garantir a sobrevivência das populações indígenas.

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Polícia dá ultimato para expulsão de 50 famílias Guarani-Kaiowá de Kurusu Ambá (MS)

Frente à notícia de despejo iminente, mais de 50 famílias Guarani-Kaiowá passaram a clamar desesperadas por justiça no estado do Mato despejo5Grosso do Sul (MS). Um pedido da suspensão da liminar de despejo, peticionada pela procuradoria da Funai, encontra-se nas mãos do ministro Ricardo Lewandowski, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF). Agora está com o presidente da Corte Suprema o poder de evitar mais uma tragédia anunciada contra os indígenas de Kurusu Ambá, tekoha – lugar onde se é – localizado nas imediações do município de Coronel Sapucaia, no sul do estado do MS, já na fronteira com o Paraguai.

Lembranças de sofrimento, dor, mortes, expulsões forçadas e vidas despedaçadas nas beiras das rodovias pesaram novamente na memória e no coração de cada um dos indígenas de Kurusu Ambá. Segundo o depoimento dos Guarani-Kaiowá, na última sexta-feira, dia 06 de março, sem consultar a Funai, órgão indigenista oficial, delegados da Polícia Federal acompanhados de um grupo de policiais se dirigiram até a terra indígena e anunciaram que o despejo da comunidade estaria marcado para o dia 16 de março, próxima segunda-feira. Os indígenas anunciaram ainda que segundo os próprios policiais, os delegados regressarão à comunidade no dia 12 de março, quinta-feira, com o intuito de convencer os Guarani-Kaiowá a se retirarem por “vontade própria” da terra que ocupam.

Frente a esta situação, o rezador da comunidade, Yvyra’ijá, de 65 anos, declarou: “Eles já sabem qual a nossa posição. Todos sabem. Nós não podemos sair, esta é nossa terra, estamos aqui porque lá onde estávamos morrendo de fome enquanto usavam de nossa terra. Só queremos nosso espaço para plantar mandioca e ter direito a uma vida digna. Não nos moveremos porque não podemos, buscamos apenas o que é nosso, retomamos aqui porque sabemos que aqui é nosso, está lá nos estudos, a Funai já estudou, é só olhar. Retomamos este lugar em especial porque esta é nossa terra mãe, nossa terra tradicional. Respeitamos a Constituição, e só entramos onde é nosso de verdade. É muito duro para mim que sou velho ver as leis de um país que tanto amamos, nos tratando tão mal. Eles vão expulsar de novo nós que somos velhos e nossas crianças? Resistiremos. Resistiremos aqui porque não temos opção. Só sairemos daqui mortos, porque a estrada para nós significará morte também”. Acompanhe matéria detalhada sobre o caso dos Guarani-Kaiowá de Kurusu Ambá aqui (http://www.cimi.org.br/site/pt-br/?system=news&action=read&id=7739)despejo2.

A decisão de despejo foi concedida no final do ano passado e é baseada essencialmente na interpretação referente ao marco temporal. Esta interpretação tendenciosa da Constituição tem sido utilizada pelos ruralistas para tentar restringir a demarcação à luz do que se refere o trecho da própria decisão do julgador: “E, não bastasse, é de se constar também que o reconhecimento do direito dos indígenas a terras que tradicionalmente ocupassem estaria condicionada à sua habitação ao tempo da promulgação da Constituição Federal de 1988, marco temporal condicionante estabelecido pelo STF, por ocasião do julgamento da PET nº 3388 (caso Raposa Serra do Sol), e reafirmado pela 2ª Turma do Pretório Excelso, quando do julgamento do RMS nº 29087/DF, em 16.09.2014.”

O detalhe é que no julgamento da área em questão, a Raposa Serra do Sol, o próprio relator do caso, o ex-ministro do STF, Ayres Britto, definiu que as condicionantes estabelecidas não tinham o caráter vinculante com demais decisões tomadas em relação a outras terras indígenas. Na verdade, enquanto os procedimentos de demarcação das terras indígenas encontram-se paralisados em âmbito nacional desde 2013, os ruralistas têm se movimentado a todo momento para reduzir territórios, em benefício do agronegócio, e alterar os procedimentos demarcatórios por meio de inúmeras proposições legislativas e/ou administrativas, como a PEC 215/2000, a Portaria 303/2012 da Advocacia Geral da União (AGU), o PLP 227/2012 e, mais recentemente, através da incidência em instâncias judiciais às quais têm acesso.

A procuradoria da Funai ingressou com o pedido de suspensão da liminar de despejo no STF e espera-se que justiça seja feita, garantindo aos indígenas um julgamento justo, baseado nos preceitos constitucionais ao invés de ter como base teorias impulsionadas pelo ímpeto do ruralismo.
Hoje, sobre a terra de Kurusu Ambá, existe vida, pintada e simbolizada através do plantio, da casa de reza, da escola, do sorriso das dezenas de crianças que lá vivem falando sua língua e vivendo sua cultura, das práticas tradicionais, dos costumes deste povo que vive na esperança de ter o procedimento demarcatório de sua terra tradicional finalizado.

Somente a demarcação deste território ancestral poderá trazer um fim definitivo ao sofrimento que os acompanha há muitas décadas. É preciso lembrar que nos últimos sete anos, o povo de Kurusu Ambá assistiu a mais de dez de suas lideranças serem assassinadas na luta pela retomada de sua própria terra, e que, em consequência direta da paralisação dos estudos demarcatórios, a mesma comunidade assistiu também há muitas outras mortes, sobretudo de crianças, vitimadas pela fome e pela desnutrição. Este número poderá aumentar caso esta decisão temerária de despejo não seja revertida, uma vez que a comunidade indígena já anunciou que prefere morrer a ter de deixar seu território novamente. Na última ordem de despejo contra uma terra indígena, executada pela Polícia Federal no MS, houve resistência e Oziel Gabriel, jovem Terena, acabou assassinado.

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) em solidariedade ao sofrimento das famílias Kaiowá faz coro ao pedido por um julgamento justo, baseado nos preceitos constitucionais ao invés de interpretações equivocadas. Esta nas mãos do STF garantir que a justiça vigore sobre a força e a vida vigore sobre a morte. Só a Corte Suprema pode impedir que a violência siga sendo a lei mais forte no estado do Mato Grosso do Sul.

Fonte: CIMI – http://www.cimi.org.br/site/pt-br/?system=news&conteudo_id=8013&action=read

Professor Carlos Alberto Domingos Kaxinawá é brutalmente assassinado no Acre

O professor da Aldeia Novo Lugar do Povo Kaninawá (Huni Kuin), Carlos Alberto Domingos Kaxinawá, de 34 anos foi encontrado morto na manhã deste domingo (08). Seu corpo estava na praça do município de Santa Rosa do Purus, no Acre. A Polícia civil de Santa Rosa prendeu três suspeitos depois da mobilização de lideranças, eles são da cidade de Sena Madureira. Apenas um dos suspeitos é maior de idade.

Carlos Alberto Kaxinawá foi atingido por pancadas de tijolos. Ele era filho do Cacique Edivaldo Domingos Kaxinawá e estava no município por causa do curso de formação pedagógica. Não se sabe o motivo do crime mas existe suspeitas que tenha sido por preconceito. Outros crimes tem ocorrido com indígenas no município o que preocupada muitas lideranças e as comunidades.

No dia 24 de março em 2013, os indígenas Ventura Samora Kaxinawá, Sebastião Kaxinawá e Carlos Torres Peres Kaxinawá foram atingidos na virilha, abdômen e tórax após participarem como torcedores de uma partida de futebol salão na quadra do ginásio de esportes da cidade. Os tiros foram de espingarda calibre 24 e o atirador foi preso em flagrante.

Fonte: Racismo Ambiental

Ciclo de Encontro com Mulheres Indígenas

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http://centrodepesquisaeformacao.sescsp.org.br/atividade/ciclo-encontro-com-mulheres-indigenas

Programa
O ciclo reúne mulheres de diferentes etnias – Kura Bakairi, Yawalapiti, Kamaiurá, Guarani, Karajá, Javaé e Xavante – para uma reflexão em torno do universo feminino indígena e as culturas indígenas em suas diversidades.Com mediação de Cristina Flória, produtora cultural, graduada em Ciências Sociais pela PUC/SP. Há mais de 20 anos desenvolve projetos culturais com comunidades indígenas.

20/03 (10h às 13h15) – Avanços sociais da mulher indígena e meio ambiente. Com Carmen Junqueira, Darlene Taukane e Cristina Flória.

 

Cristina Flória, Carmen Junqueira e Darlene Yaminalo Taukane, apresentam ao público referências teóricas sobre a temática indígena abordando os critérios de identificação indígena, os direitos garantidos aos povos indígenas na Constituição Federal de 1988, os avanços sociais da mulher indígena, as atividades que o Instituto Yukamaniru de Apoio às Mulheres Kura Bakairi desenvolve na aldeia Kuiakware, e a cultura Kura Bakairi.20/03 (14h15 às 17h30) – Mulheres Xinguanas, suas conquistas e desafios. Com Watatakalu Yawalapiti e Kaiulu Yawalapiti Kamaiurá.

 

Watatakalu Yawalapiti e Kaiulu Yawalapiti Kamaiurá desenvolvem uma reflexão sobre o universo feminino das mulheres indígenas do Xingu, os projetos que vêm desenvolvendo através da Associação Yamurikumã das Mulheres Xinguanas, que reúne 16 etnias do Parque Indígena do Xingu, abordando também as culturas Yawalapiti e Kamaiurá.Será exibido o vídeo Encontro das mulheres Xinguanas, filmado por realizadoras Kawaiweté, por ocasião do II Encontro das Mulheres Xinguanas realizado em outubro de 2013, em Canarana, no Mato Grosso. O encontro reuniu 250 mulheres de 16 etnias para discutir o papel que a Associação Yamurikumã deve exercer para que as mulheres xinguanas tenham mais força e participação política nas instâncias de decisão dentro e fora do Xingu.

21/03 (10h às 13h15) – Cultura Guarani e saúde indígena. Com Djerá Rete e Arazu Guarani.

 

Djerá Rete e Arazu Guarani, da aldeia Tekoá Ytu, da Terra Indígena Jaraguá, localizada na periferia de São Paulo, desenvolvem sobre o universo feminino Guarani, os desafios em relação as questões referentes à saúde indígena, os trabalhos que o Centro Cultural Rapó tem desenvolvido dentro da aldeia, e a cultura milenar Guarani em convivência com a sétima cidade mais populosa do planeta e considerada a 14a. cidade mais globalizada do mundo.21/03 (14h15 às 17h30) – Identidade, cultura e diversidade cultural. Com Severiá Idioriê.

 

Severiá Idioriê Xavante, encerra o ciclo do Encontro com Mulheres Indígenas trazendo reflexões referentes a sua experiência como educadora em escola indígena e sobre questões referentes a identidade, cultura indígena e diversidade cultural.Exibição do documentário Piõ Höimanazé – a mulher Xavante em sua Arte, filmado entre 2007 e 2008, na aldeia Xavante Etenhiritipá, Terra Indígena Pimentel Barbosa, no Mato Grosso. Filme inédito sobre o universo feminino Xavante protagonizado por mulheres de diversas gerações, que revelam sua arte, de raízes culturais profundas, retratando em minúcias todo o seu esplendor, a riqueza de seus conhecimentos que são mantidos há milhares de anos e transmitidos de geração a geração até os dias atuais.

(Foto: Cristina Flória)

Inscrições a partir do dia 23/02, às 14h.