Ciclo de Encontro com Mulheres Indígenas

cheia

 

http://centrodepesquisaeformacao.sescsp.org.br/atividade/ciclo-encontro-com-mulheres-indigenas

Programa
O ciclo reúne mulheres de diferentes etnias – Kura Bakairi, Yawalapiti, Kamaiurá, Guarani, Karajá, Javaé e Xavante – para uma reflexão em torno do universo feminino indígena e as culturas indígenas em suas diversidades.Com mediação de Cristina Flória, produtora cultural, graduada em Ciências Sociais pela PUC/SP. Há mais de 20 anos desenvolve projetos culturais com comunidades indígenas.

20/03 (10h às 13h15) – Avanços sociais da mulher indígena e meio ambiente. Com Carmen Junqueira, Darlene Taukane e Cristina Flória.

 

Cristina Flória, Carmen Junqueira e Darlene Yaminalo Taukane, apresentam ao público referências teóricas sobre a temática indígena abordando os critérios de identificação indígena, os direitos garantidos aos povos indígenas na Constituição Federal de 1988, os avanços sociais da mulher indígena, as atividades que o Instituto Yukamaniru de Apoio às Mulheres Kura Bakairi desenvolve na aldeia Kuiakware, e a cultura Kura Bakairi.20/03 (14h15 às 17h30) – Mulheres Xinguanas, suas conquistas e desafios. Com Watatakalu Yawalapiti e Kaiulu Yawalapiti Kamaiurá.

 

Watatakalu Yawalapiti e Kaiulu Yawalapiti Kamaiurá desenvolvem uma reflexão sobre o universo feminino das mulheres indígenas do Xingu, os projetos que vêm desenvolvendo através da Associação Yamurikumã das Mulheres Xinguanas, que reúne 16 etnias do Parque Indígena do Xingu, abordando também as culturas Yawalapiti e Kamaiurá.Será exibido o vídeo Encontro das mulheres Xinguanas, filmado por realizadoras Kawaiweté, por ocasião do II Encontro das Mulheres Xinguanas realizado em outubro de 2013, em Canarana, no Mato Grosso. O encontro reuniu 250 mulheres de 16 etnias para discutir o papel que a Associação Yamurikumã deve exercer para que as mulheres xinguanas tenham mais força e participação política nas instâncias de decisão dentro e fora do Xingu.

21/03 (10h às 13h15) – Cultura Guarani e saúde indígena. Com Djerá Rete e Arazu Guarani.

 

Djerá Rete e Arazu Guarani, da aldeia Tekoá Ytu, da Terra Indígena Jaraguá, localizada na periferia de São Paulo, desenvolvem sobre o universo feminino Guarani, os desafios em relação as questões referentes à saúde indígena, os trabalhos que o Centro Cultural Rapó tem desenvolvido dentro da aldeia, e a cultura milenar Guarani em convivência com a sétima cidade mais populosa do planeta e considerada a 14a. cidade mais globalizada do mundo.21/03 (14h15 às 17h30) – Identidade, cultura e diversidade cultural. Com Severiá Idioriê.

 

Severiá Idioriê Xavante, encerra o ciclo do Encontro com Mulheres Indígenas trazendo reflexões referentes a sua experiência como educadora em escola indígena e sobre questões referentes a identidade, cultura indígena e diversidade cultural.Exibição do documentário Piõ Höimanazé – a mulher Xavante em sua Arte, filmado entre 2007 e 2008, na aldeia Xavante Etenhiritipá, Terra Indígena Pimentel Barbosa, no Mato Grosso. Filme inédito sobre o universo feminino Xavante protagonizado por mulheres de diversas gerações, que revelam sua arte, de raízes culturais profundas, retratando em minúcias todo o seu esplendor, a riqueza de seus conhecimentos que são mantidos há milhares de anos e transmitidos de geração a geração até os dias atuais.

(Foto: Cristina Flória)

Inscrições a partir do dia 23/02, às 14h.

Assista o documentário “A Arca dos Zo’é”

Os índios Waiãpi, que conheceram os Zo’é através de imagens em vídeo, decidem ir ao encontro destes índios recém contactados no norte do Pará e documentá-los. Os Zo’é proporcionam aos visitantes o reencontro com o modo de vida e os conhecimentos dos seus ancestrais. Os Waiãpi, em troca, informam os Zo’é sobre os perigos do mundo branco que se aproxima, e que os isolados estão ansiosos por conhecer.

Diretor: Vincent Carelli, Dominique Tilkin Gallois
Roteiro: Vincent Carelli
Fotografia: Vincent Carelli
Som: Dominique Tilkin Gallois
Edição: Tutu Nunes
Produção: Video nas Aldeias

[Chile] Porque como anarquistas apoiamos a luta autônoma do povo mapuche

O conflito entre o Estado chileno e o Povo Mapuche nasce com a própria formação e imposição do Estado. E se agudiza com o estabelecimento de assentamentos fortemente militarizados no território do Povo Mapuche: o Wallmapu. Estes assentamentos trouxeram consigo a imposição da cultura ocidental através de sangue e fogo, exterminando os habitantes autóctones da zona.

Desde os anos 90 à atualidade, a luta do Povo Mapuche têm buscado diversas formas de combater o Estado e o capitalismo. A miséria, a fome, a injustiça e a desigualdade econômica nas zonas ao sul do Chile têm demonstrado que o inimigo não é só o Estado/nação, senão que também é o sistema capitalista no qual habitamos. São justamente, estes pontos os que iremos desenvolvendo ao longo deste texto, com o fim de responder a nossa inquietude: Como anarquistas apoiamos a luta do Povo Mapuche?

amapuchesNós afirmamos que sim, apoiamos esta luta. Em primeiro lugar, devido a que nossos inimigos são os mesmos. Na atualidade, várias comunidades mapuches têm identificado como seu principal inimigo o capitalismo e suas instituições, esclarecendo como suas lógicas levam o mundo ao colapso.

Embora nós não possuímos a mesma cultura nem cosmovisão e temos certas apreensões com suas formas organizativas, compartilhamos a mesma necessidade de soberania e autodeterminação. Por isso que, nos identificamos com a busca do controle tanto de nossas vidas como de nossos territórios.

Para sermos mais claros, o Povo Mapuche tem notado, da mesma forma que o pensamento ácrata, a relação direta que tem para a implantação do capitalismo, o surgimento do Estado moderno. Não há que esquecer que a consolidação dos Estado/nação latino-americanos esteve nas mãos de sangrentas guerras contra os territórios indígenas que conseguiram manter autonomia no período colonial, como por exemplo o Wallmapu.

A estratégia mapuche tem direta relação com a autodefesa – ou resistência -, uma luta por recuperar e defender suas terras, terras que pertenceram a seu povo ancestralmente. O ataque às empresas florestais na Araucanía tem que ver diretamente com o rechaço à exploração brutal da terra por parte do empresário. Esta exploração se consuma na introdução de espécies estranhas, como o Eucalipto e o Pinho¹ e o mono-cultivo após sua plantação, o qual traz consigo nefastas consequências para o ecossistema do Wallmapu. Por sua
vez, o Estado chileno subvenciona as empresas florestais pela plantação destas árvores, confundindo a restauração de bosque nativo com a exploração da terra². Em efeito, a indústria florestal é uma das indústrias mais importantes dentro da zona, no entanto, é uma das mais daninhas no Wallmapu. Por trás disto se encontram as causas da marginalização e pobreza do povo mapuche, que por culpa destas empresas se viram deslocados de suas terras ancestrais e obrigados a situarem-se em outros setores menos produtivos.

Por outro lado, o lugar que toma o Estado dentro deste conflito, tem diretamente que ver com sua própria natureza. O Estado busca o controle e a administração de nossas vidas, para proporcionar-nos uma “liberdade” de submissão e obediência³, estabelecendo um marco jurídico-legal que delimita um território no qual reclama ter o monopólio da violência. Ou seja, qualquer indivíduo, coletivo e/ou comunidade que resista a sua ordem se transforma em um/a inimigx e o Estado buscará anulá-lo por meio de repressão e sua legalidade irracional. O Povo Mapuche se tem dado conta que o capitalismo – e seu Estado-nação – impõe um sistema que os marginaliza e impõe as lógicas mercantis, rompendo com suas tradições ancestrais – e o que é mais grave ainda, sua própria autonomia.

Enfim, nós como anarquistas, apoiamos a luta do Povo Mapuche, porque nossos inimigos são os mesmos. E aí estaremos, sempre que nos necessitem: com nossa presença, com a difusão de propagandas e comunicados e com tudo o que seja necessário para prejudicar a nossos inimigos e resistir a seus ataques. Por nossa liberdade e autonomia. Como companheirxs, não como guias nem especialistas. As receitas não as temos. Apostamos que a solidariedade é necessária para a luta contra a totalidade que é o capitalismo mundial. A diversidade de lutas em convergência é uma força inesgotável, que não poderão parar. Os processos já foram iniciados e é responsabilidade nossa
fazer desta, nossa história.

Nossa convergência e união é: nossa resistência e nosso ataque.

*Colectivo La Peste*

inicio

*Notas:*

[1] Estas árvores requerem um grande consumo de água, secando rios. Por sua vez, que o monocultivo e o uso indiscriminado do solo (sem dar-lhe descanso) gera erosão e contaminação da água, tornando improdutiva a terra para tarefas agrícolas.

[2] “O Decreto de Lei 701 estabeleceu um subsídio de 75% do investido em plantações florestais, abriram-se créditos especiais e isenções tributárias (liberação de impostos), grande quantidade de solo passou a ser decretado de uso preferencialmente florestal, vendo-se seus donos obrigados a plantar e reflorestar, mais ainda se estabeleceu sanção a quem investir estes dinheiros em agricultura ou pecuária. A atividade florestal passou a ser considerada uma atividade social muito lucrativa.” Em:
http://www.resumen.cl/index.php?option=com_content&view=article&id=5805:ley-de-fomento-forestal-ano-decisivo-para-la-agricultura-chilena&catid=16:ecologia&Itemid=60

[3] Weber indica que o Estado é uma relação de dominação de homens sobre homens por meio de uma violência legitimada socialmente. O político e o científico. Alianza Editorial, 2003. p. 84

Tradução > Sol de Abril

*agência de notícias anarquistas-ana*

Na noite sem lua
o mar todo negro
se oferece em espuma
Eugénia Tabosa

(VÍDEO) Povos indígenas e a ditadura militar

Após pressão de organizações de direitos humanos, o Grupo de Trabalho Indígena é incluido nas investigações da Comissão Nacional da Verdade (CNV), trazendo à tona uma realidade desconhecida da sociedade brasileira: os povos indígenas foram um dos grupos mais atingidos pela ditadura militar no Brasil. Massacres, escravizações, prisões clandestinas, torturas, estão entre as denúncias apuradas pelo recem encontrado “Relatório Figueiredo”.
Como se aplica à história desses povos os conceitos de Verdade, Memória e Justiça do estado de direito democrático brasileiro?

Sobre o Relatório da Comissão Nacional da Verdade e Povos Indígenas

O relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV) em parte é uma vitória dos movimentos sociais, particularmente dos movimentos que puseram em discussão a questão indígena. Ele ratifica o que os movimentos indígenas e comitês locais já apontavam: os povos indígenas são as maiores vítimas da ditadura militar no Brasil e somam ao menos 8.350 mortos. E mais, o relatório reafirma que são mortos e desaparecidos políticos, pois lutavam para gerir autonomamente seus territórios. É também muito feliz a colocação de que o Estado Brasileiro deve garantir a reparação, especialmente devolvendo os territórios invadidos pela grilagem de terras.
Por outro lado, o relatório é uma radiografia fiel dos preconceitos que atravessam ditaduras, democracias e governos populares. O exemplo mais infeliz disso está na página 684 do relatório, quando se discute a guerrilha do Araguaia. Ali se lê, com todas as letras, o seguinte:
“prevaleciam na região as zonas de mata fechada e as áreas ainda inexploradas pela ocupação humana (em parte devido à presença maciça de povos indígenas na região)”. 
 

Waimiri-Atroari Desaparecidos na Ditadura

Waimiri-Atroari Desaparecidos na Ditadura

A oposição que se faz entre ocupação humana e ocupação indígena, muito comum na Academia e no Jornalismo, é a mais fiel demonstração da limitação de raciocínio que o preconceito promove nos indivíduos. Neste caso o preconceito é tamanho que a própria condição humana é negada aos indígenas de tal forma que não se reconheça de forma integral as graves violações de direitos humanos cometidas contra estes povos.
O infeliz preconceito se repete na distinção que se faz entre moradores e indígenas (na página 717 do relatório) e nas listas de desaparecidos onde não se vê os nomes dos Waimiri-Atroari, Kaiowá, Tenharim… E não é por falta de nomes, pois o comitê do Amazonas listou dezenas de nomes entre os mais de 2000 mortos do povo Waimiri-Atroari.
O relatório foi entregue, mas o Brasil ainda não fechou essa página sangrenta de sua história. É preciso que se esclareça cada uma das mortes, não podemos esquecer ninguém. A luta dos povos indígenas continua, é o legado dos que já se foram, sujeitos políticos que fizeram, fazem e continuarão fazendo histórica de luta sobre e pela terra.
Agora será preciso uma Comissão Multicultura da Verdade, pois ninguém pode ser esquecido!

Índios desfilam com homem pendurado no pau de arara durante cerimônia de formatura da Guarda Rural Indígena

Soldados da Guarda Rural Indígena desfilam com outro índio pendurado no pau de arara durante cerimônia de formatura, 1970

 

Manaus, 10 de dezembro de 2014.
Maiká Schwade.
Fonte: Urubuí

Índios Munduruku: Tecendo a Resistência (Documentário)

O governo brasileiro está planejando construir um grande número de barragens hidrelétricas nos rios da Amazônia, destruindo a biodiversidade e interrompendo o modo de vida de milhares de índios e populações locais. Agora que as obras da gigante barragem de Belo Monte, no rio Xingu, estão a todo vapor, o governo está avançando com o seu próximo grande projeto – uma série de barragens no rio Tapajós. Mas os mais de 12.000 índios Munduruku, temidos como guerreiros, vivem nessa região e estão se mobilizando.

O documentário mostra a vida em uma aldeia Munduruku, onde as tarefas tradicionais são praticadas diariamente e as crianças crescem com uma liberdade admirável. O filme documenta o crescimento de sua resistência, que de diferentes formas sempre existiu, inclusive entre as mulheres, que têm papel fundamental nessa luta, e que agora também estão se levantando como guerreiras na articulação contra as barragens hidrelétricas.
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Este documetário foi produzido de forma independente, com apoio de algumas organizações, grupos da região do Tapajós e lideranças Munduruku. Toda a pós-produção foi executada graças ao trabalho colaborativo e em solidariedade à luta do povo Munduruku.

| Ficha técnica |

Reino Unido/Brasil, 25min
Dir.: Nayana Fernandez
Produção: Sue Branford, Mauricio Torres e Nayana Fernandez
Camera / Som: Nayana Fernandez
Edição: Nayana Fernandez e Jason Brooks
Edição de Som: Aquiles Pantaleão e Michal Kuligowski
Desenho de Som: Michal Kuligowski
Graficos: Mariana Delellis
Música: “Whispers” – Por Kushal Gaya e Jenny Sutton / “Mi Corazón” por Kike Pinto
Imagens adicionais: Índios Munduruku (aldeia Teles Pires), Emilio Días (aéreas), Alejo Sabugo (aldeia Restinga)
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“Índios Munduruku: Tecendo a Resistência”, de MiráPorã, está registrado sob licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 – International License e pode ser baixado gratuitamente para maior difusão no link a seguir.

Carta de Jairo Saw – liderança do Movimento Ipereg Ayu

tapajos

Somos povos nativos da floresta Amazônica, existimos desde a origem da criação do mundo, quando o Karosakaybu nos transformou do barro (argila) e nos soprou com a brisa do seu vento, dando a vida para todos nós. Desde o princípio conhecemos o mundo que está ao nosso redor e sabemos da existência do pariwat (não-índio), que já vivia em nosso meio. Éramos um só povo, criado por Karosakaybu, criador e transformador de todos os seres vivos na face da Terra: os animais, as florestas, os rios e a humanidade. Antes, outros povos não existiam, assim como os pariwat não existiam.

O pariwat foi expulso do coração da Amazônia, devido ao seu pensamento muito ambicioso, que só enxergava a grande riqueza material. Portanto, a sua cobiça, a sua ganância, a sua ambição, o seu olho grande despertou o grande interesse econômico sobre o patrimônio que estava em seu poder. Não pretendia proteger, guardar, preservar, manter intactos os bens comuns, o maior patrimônio da humanidade, e isso despertou o seu plano de destruição da vida na Terra. Por isso, o Karosakaybu achou melhor tirar a presença do pariwat deste lugar tão maravilhoso, onde há sombra e água fresca.

Nossos ancestrais, no decorrer do tempo, nos transmitiram oralmente esses relatos sobre a vinda dos pariwat, oriundos de outro continente, a Europa. Contaram-nos que um dia chegariam a esse paraíso onde nós estamos. Hoje podemos presenciar os fatos sendo consumados.

O pariwat chegou, depois de viajar pelo mundo em busca de especiarias, produtos, mercadorias. Foram ampliando a expedição, em busca de conhecer outro mundo ou outra terra. Viajavam em caravelas até chegar ao chamado “novo continente”, que se conhece hoje como continente americano, onde está o Brasil, desde o século XIV.

Nossos avós diziam que, quando os pariwat chegassem até o nosso território, eles iriam tomar nossas terras, nossas mulheres, nossas crianças. Iriam nos matar, não nos poupariam vidas para possuir tudo aquilo que nos pertence: a nossa riqueza, os bens que possuímos, incluindo a nossa cultura, a forma como vivemos.

Invadiram nossa terra, muitos de nossos parentes foram massacrados, assassinados, foram submetidos à tortura e foram usados nos trabalhos forçados, servindo de mão de obra escrava.

Já no século XXI, na era contemporânea/continuamos sendo oprimidos, como nos tempos passados. Apesar de termos alcançado várias conquistas e garantido nossos direitos específicos e diferenciados na Constituição Federa” ainda assim esses direitos não são respeitados e reconhecidos. Hoje se utilizam do poder para impor o lema do “progresso e desenvolvimento”, a base da bandeira nacional: “ordem e progresso”. Tudo em nome do capital.

No primeiro momento, o objetivo era seguir exatamente como está escrito no símbolo da bandeira: pôr em ordem, organizar a política da sociedade civil. As leis estão organizadas desde o princípio, elas não devem ser mudadas, o que se deve fazer é cumprir e obedecer.

Nós, Munduruku, obedecemos leis e, embora não se encontrem escritas em nenhum arquivo, as conhecemos há milhões de anos e até hoje cumprimos essas leis.

A natureza tem leis e devem ser obedecidas. Se nós violarmos suas regras, ela se vingará e sofreremos as conseqüências. As leis estão em ordem, não devem sofrer interferência alguma.

Os “civilizados” escreveram leis e, a despeito delas, usam o poder para oprimir as pessoas que julgam ter menos conhecimentos. Não reconhecem os seus direitos, chegam até a intimidar, a ponto de ficarem submissas. A razão é dada apenas por um individuo ou classe com maior poder econômico.

Os “civilizados” dariam bom exemplo de cidadão pleno e letrado para as pessoas humildes, porque a lei foi feita por causa das injustiças criadas pelos pariwat de outro continente. Justiça é saber o que é certo e o que é errado, sem favorecer a um ou a outro, a balança não deve pesar nem para a direita e nem para a esquerda.

Existe uma haste entre os dois pratos da balança e a justiça deve ser feita para o cumprimento da lei, deve ser obedecida e aplicada a quem tentar infringi-Ia. Então, ao surgir a lei escrita, ela desvendou os nossos olhos, passamos a enxergar as coisas erradas dos pariwat a nosso respeito. Os nossos direitos estão em jogo. Falam tanto a nosso respeito, somos tratados como empecilhos para o desenvolvimento econômico do país. Mas nós não somos contra o desenvolvimento, o que queremos é que sejamos respeitados e que nossos direitos como indígenas sejam reconhecidos. A Constituição diz que é dever do Estado proteger, demarcar os territórios, garantir a segurança, respeitar as formas próprias de organização social e as culturas diferenciadas, por isso queremos respeito. Até a nossa crença, a nossa religião deve levar em consideração o modo como vivemos.

Respeitamos sempre a natureza, ela é de suma importância para nós e é essencial para a vida no planeta. Nós estamos preocupados com o equilíbrio do clima, com as mudanças climáticas. Resta apenas uma parte da floresta que está dando vida ao planeta chamado Terra e a seus habitantes. Esta pequena parte tornou-se alvo da ganância do pariwat.

Nós percebemos que os países ricos queriam levar o chamado “desenvolvimento” para o coração da Amazônia. Não levam em consideração os povos nativos desse continente, que estão aqui há milhares de anos. Estamos lutando, resistindo, protegendo com unhas e dentes esse nosso patrimônio, mas ninguém ouve nossos gritos de socorro em prol da vida no planeta. Sabemos que a vida dos pariwat também está em risco e não estamos apenas nos defendendo: estamos defendendo

toda a vida, toda a biodiversidade.

Existem tantos cientistas que estudam os fenômenos da natureza e alguns devem estar percebendo as mudanças climáticas, dia após dia, ano após ano. Em outros países vemos as conseqüências dos impactos causados pela ação humana. As conseqüências estão sendo sentidas e estão fora da normalidade. A natureza está sofrendo alterações no seu funcionamento, que vão além da sua capacidade, ela já não está suportando a pressão causada pelos humanos.

Alguns exemplos dessa pressão são: poluição do ar produzida pelas grandes fábricas e indústrias, automóveis, desmatamento, explosão de dinamites, dentre outros. A natureza não consegue transformar o oxigênio para devolver para nós, porque a impureza do ar contaminado é maior do que a sua capacidade. O acúmulo de ar poluído torna-se pesado para as árvores. É notado isso claramente nas leis da física.

As árvores não conseguem absorver todo esse ar impuro. O peso do ar não é visto por nós, mas percebemos através do aquecimento. Em algumas regiões, o clima é seco e quente, geralmente as fontes de água secam, secam as relvas, assim como as folhas das árvores caem e os animais não conseguem encontrar abrigos e alimentos. Por falta de vegetação, o equilíbrio está ameaçado, colocando em risco a vida dos homens e dos animais. Não há mais vapores de água produzidos pelas árvores, pela manhã não há gotas de orvalho. Nas grandes cidades, o clima não é diferente. Para dizer a verdade.ias pessoas estão sedentas, cansadas, querem sentir a brisa de ar frio pela manhã. No interior das casas, seja de noite ou de dia, o ambiente não é favorável, já é quente.

Outro fator de alto risco é o acúmulo de gás poluente, as fumaças das grandes queimadas, que chegam e se alojam na camada de ozônio. Muitas vezes chegam pouco a pouco de algumas regiões e outras vezes chegam em grandes quantidades, aumentando a extensão do volume de gás poluente, rompendo a barreira de proteção da filtração de raios solares em direção à terra. Nem podemos imaginar a causa disso.

Pode ser que digam que isso é o aquecimento global ou o efeito estufa, prejudicial à nossa saúde.

Todo mundo sente e vê os impactos dos fenômenos estranhos decorrentes da mudança da natureza. Em alguns países vemos terremotos, enchentes, secas, doenças, tsunamis, acidentes, maré alta, vulcões, chuvas com raios e trovoadas. Tudo isso é conseqüência causada pelas mãos dos homens. Eles estão desequilibrando o equilíbrio do ecossistema. Estão colocando em risco a vida da humanidade. O planeta todo vai ao caos.

Alguns estudiosos, como astrônomos, físicos, meteorologistas, que entendem de ciências naturais, podem explicar melhor cientificamente, tecnicamente e filosoficamente. A natureza tem uma lei. Ela age e faz acontecer tudo naturalmente, sem que o homem interfira.

Mas essa lei não é obedecida, é desobedecida. Dá pra entender que temos leis (Constituição) para nos punir. Do mesmo modo, a natureza nos pune. Temos capacidade além da natureza, mas nunca vamos entender as suas ações.

A Terra está sofrendo impactos, está sendo tirada a sua cobertura (vegetação), seu teto destruído (camada dê ozônio), alterada a sua fonte de vida (água) e todas as formas de vida. A sua estrutura sólida, que é a base de sustentação das rochas, solos e águas, está sendo destruída com explosão de dinamites. O lençol freático, com a base rompida, poderá abrir frestas e a água potável poderá secar o seu leito. A rocha, após sofrer explosões, elas racham, se quebram, rompem, se afastam uma das outras. Ela não vai estar sólida.

Na superfície da Terra, quando é provocada a estrutura que sustenta a camada externa, com o tremor, a tendência da vida externa é sofrer impacto. Logo se abre a abertura numa determinada camada da terra, causando a erosão, a fratura da base subterrânea. Começa a encontrar um caminho para o fundo da terra, através das enxurradas penetram as águas potáveis, poderá secar a fonte de água doce, com rompimento das camadas de rochas.

Nosso receio é a liberação de gás prejudicial à vida dos seres humanos. O próprio vulcão inativo se ativará. Será um desastre não só para a Amazônia, o mundo todo sofrerá calado. Ao ser liberado o calor dos vapores do vulcão, quando a água penetrar pelo canal aberto até o manto, o calor através de vapores do contato com a água, o ar será aquecido, sendo prejudicial à vida existente no planeta terra.

Será que o mundo vai permitir esse genocídio que está sendo anunciado com a decisão do governo brasileiro de construir grandes hidrelétricas na região amazônica, causando impactos irreversíveis para toda a humanidade? É a vida na Terra que está em perigo e nós estarnos dispostos a continuar lutando, defendendo a nossa floresta e os nossos rios, para o bem de toda a humanidade. E vocês? Vocês estão dispostos a ser solidários nessa luta?

Foto: Maurício Torres

[México] Pronunciamento libertário em solidariedade aos povos do Istmo de Tehuantepec

“Loshombres no pueden pensar en ser autónomos hasta que no se dé un gobierno hecho por ellos, un gobierno que no sea sobre el pueblo o a favor
del pueblo, sino un gobierno hecho por el pueblo. De esta forma las órdenes de este gobierno serán legítimas porque será el pueblo mismo quien las ha dado. Se tratará, según esta concepción, del paso del concepto de autonomía
del individuo al concepto de autonomía colectiva de individuos” - Alfredo María Bonanno “No podréis pararnos: La lucha anarquista revolucionaria en Italia”

Aos meios de comunicação Livres e Autônomos
Aos povos em luta Esta jornada será longa, dura e com raiva!

Os defensores e falsos críticos do sistema capitalista querem dominar e devastar tudo, até mesmo o menor espaço do globo, mas a resposta é e será contundente. Não diálogo nem mediação! Assim foi decidido e empregado por alguns povos na geografia Mexicana, assim se manifestaram nossos irmãos zapotecas dos corajosos povos de Ghi'xhi'ro' [Álvaro Obregón] e os Ikoots
dos povos de San Mateo e San Dionisio del Mar.

Mas a situação é complicada, o caminho da autonomia não é nem será fácil. A
 necessidade de viver sem a mediação do Estado, sem as instituições do mesmo, sem partidos políticos, mas acima de tudo, sempre optando pelo
caminho do apoio mútuo e da coletividade CUSTAM mais do que poderíamos imaginar. Mas esse é o ponto. TUDO OU NADA. TERRA, LIBERDADE OU MORTE, é a utopia pela qual tanto aspiramos e que estamos construindo neste exato momento.

Ontem, 13 de dezembro, por volta das 23h45, aproximadamente 1000 elementos da polícia estadual entraram no povoado de San Dionisio del Mar com a intenção de levar a cabo eleições locais [que pretende realizar neste domingo, 14 de dezembro] que a Assembléia do povo de San Dionisio del Mar já tinha boicotado, pela simples razão de trazer um novo mundo em seu
coração e recuperar as formas ancestrais de organização baseadas no apoio mútuo, na coletividade e na assembleia como o órgão máximo de decisão.

O que vem a seguir é incerto, podemos prever um cenário de ataque por parte da polícia [pois esse é o seu trabalho], mas também enxergamos uma
autodefesa eminente do povo. Aconteça o que acontecer estaremos com vocês, lado a lado, defendendo os processos autônomos, a gente com vocês, vocês com a gente, cara a cara com o inimigo, desde qualquer trincheira, desde
Oaxaca capital até o Distrito Federal faremos ecoar os gritos de solidariedade.

A autonomia incomoda o Estado e o Capital, é por isso que, com todos os meios à sua disposição tentarão esmagar qualquer tentativa de organização horizontal e autônoma. Mas também de nossa parte, com todos os meios possíveis e ao nosso alcance, defenderemos a nossa luta e os processos que, como libertários, temos construído juntas e juntos e ao lado dos povos.

Solidariedade com a Assembleia do povo San Dionisio del Mar!
Solidariedade com a Assembleia comunitária de Ghi'xhi'ro'- Álvaro Obregón!
Solidariedade com os povos autônomos e em luta!
Fora Megaprojetos do país!


Contra o Estado-Capital!
Com a rebeldia defenderemos a autonomia!
A paz entre os povos, Viva a anarquia!
14 de dezembro, Oaxaca Ingovernável


Coletivos:
BARRO negro
Bloque Autónomo de Conciencia Revolucionaria
Proyecto ambulante
Cruz Negra Anarquista México
Individuxs Solidarios del auditorio “Che Guevara”
Regeneración Radio

Chamado contra Belo Monte – Um Genocídio Energético

Em 10 de Dezembro de 2014 – Dia Internacional da Luta Contra Belo Monte

Um enorme buraco em meio a floresta irá servir ao mesmo tempo de berço para o progresso estatal e capital, e túmulo para os povos indígenas do Xingu e Tapajós. A usina hidroelétrica de Belo Monte segue sendo construída a despeito de seus terríveis impactos e sua ineficiência sazonal. O fundamentalismo energético capitalista não cessa de colocar em risco o futuro das gerações vindouras dos povos ameríndios no Brasil.

A construção de Belo Monte anuncia não uma guerra, mas o assassinato premeditado de modos de vida milenares desenvolvidos em relação e harmonia com as cheias e secas dos rio Xingú, a vastidão viva da floresta amazônica, o respeito da diferença em toda suas diferentes formas e expressões.

A violência da civilização industrial não conhece limites.

Para além das propagandas, o estado brasileiro ergue Belo Monte para cumprir seus acordos sujos com grandes construtoras, (CCBM, Norte Energia entre outras) que atualmente financiam as campanhas do Partido dos Trabalhadores. Este governo como qualquer outro ambiciona mais impostos, planejando futuros parques industriais e zonas francas, a instalação de grandes minerações (Projeto de Volta Grande da Belo Sun Mining corporação canadense de extração de ouro e outros metais) e indústrias metalúrgicas altamente poluentes nas proximidades e mesmo dentro das terras indígenas.

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Munduruku paralizam retroescavadeiras em ocupação do pátio de obras da usina de Belo Monte para protestar contra a sua construção em 8 de junho de 2012.

O projeto de Belo Monte foi elaborado no último período ditatorial. Nos últimos governos este projeto foi resgatado e vem sendo implementado da forma mais autoritária possível por um regime pretensamente democrático. A exigência por justiça dos povos indígenas nos faz lembrar que este estado de direito é uma falácia e que não há diferença alguma entre as políticas dos ditadores em relação àquelas dos seus predecessores democratas.

Belo Monte é apenas uma das muitas covas cravadas no futuro dos indígenas, muitas outras hidroelétricas seguidas de polos industriais estão sendo planejadas para os próximos anos. Os PAC – Planos de Aceleração do Colapso – são parte do IIRSA – Iniciativa para Integração da Infraestrutura Física Sul-Americana – uma infinidade de mega-obras voltadas para o aumento da produção capitalista nos países sul-americanos, sempre em detrimento da vida de milhões de pessoas, afetando principalmente as populações indígenas e ribeirinhas.

Mulher Kaiapó acerta rosto de tecnocrata com um talho de facão. Lembrando a eles que não são inatingíveis.

Em 1989  mulher Kaiapó acerta rosto de tecnocrata da Eletronorte com um facão. Lembrando aos inimigos da floresta que não são inatingíveis.

Munduruku, Kayapó, Xikrin estes e muitos outros povos – tanto no Xingú como por todo mundo – estão se mobilizando contra às forças que operam pela construção da represa de Belo Monte. A imagem do machete da mulher Kaiapó no rosto do engenheiro nos recorda que o amor não implica em pacifismo, mas sim na luta pelo futuro de quem que se ama.

No interior destas corporações e empresas envolvidas na construção de Belo Monte, assim como em iniciativas similares, estão investidores, articuladores e tecnocratas – homens e mulheres a serviço do fundamentalismo energético, buscando lucro acima da vida, pessoas com endereço, nome e sobrenome.

Este é um chamado para a guerra contra Belo Monte, um chamado para o ataque de seus perpetuadores. Lutar contra Belo Monte, lutar contra o genocídio significa mostrar a estas pessoas e a estas empresas, que não se encontram além das conseqüências de suas escolhas, que a violência industrial que lançam sobre a floresta, pode justamente se voltar contra elas.

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Com lanças e flechas kaiapós entram no pátio de obras da Usina de Belo Monte e declaram guerra aos assassinos dos povos da floresta.

Para contribuir com esse chamado á guerra, colocamos aqui uns links onde se pode encontrar esses nomes, sobrenomes, endereços de pessoas e entidades responsáveis pela destruição do Xingu e Tapajos, seus diversos habitantes.

http://norteenergiasa.com.br/site/noticias-home/

http://www.belosun.com/Corporate/Board-of-Directors/default.aspx

http://www.belosun.com/Investors/Presentations/default.aspx: aqui o plano de exploração de minas de ouro na região do Xingu, plano feito em colaboração e coordinação com usina do Belo Monte.

http://blogbelomonte.com.br: blog da Belo Monte

Olhares da CLAPA sobre o V Encontro dos Kujã no Morro do Osso

No Morro do Osso (POA-RS) – territórios cativos do estado brasileiro – no 21 e 22 de Novembro, aconteceu o 5° Encontro dos Kujã, (reunindo xamãs, parteirxs, sábixs, silenciosxs ou faladorxs, curiosxs e apoiadorxs) organizado pela força de articulação dos Kaingang.

Estiveram reunidos junto na aldeia Tupeng Pö, (TI Morro do Osso), parentes de 18 terras kaingang. Em sua quinta edição o encontro mostrou a potência desperta dos kujã com narrativas e práticas ancestrais kaingang voltadas para a saúde, o fortalecimento e a luta, num contexto de reivindicações dos povos nativos por direitos existenciais e liberdades originárias.

Em muitos pronunciamentos os líderes e oradores manifestaram tristeza com a morte do sábio corajoso, Augusto Opë da Silva em Iraí (RS), indignação com assassinato do jovem guerreiro Davi Limeira de Oliveira, professor bilingue em Vicente Dultra (RS), ódio ao cerco policial de mais de trezentos homens (militares e federais com helicópteros, cães e cavalos, e ainda aplicações forçadas de políticas biométricas) contra a pequena comunidade kaingang de Kandoia (RS).

Em muitas falas, duras críticas à civilização branca (fög kupri), este sistema de monocultura que castiga e hierarquiza a diferença para explorá-la. Os fög, disse um sábio com suas próprias palavras, nos fazem armadilhas, para aprisionar modos distintos de ser em relações de dependência e escassez. Nas falas dos mais sábios se reconheceu a aversão e consciência em relação ao modo de vida civilizado, enquanto máquina desumana que disfarça com ilusões e mentiras sua nocividade à toda vida.

Foi relembrada pelos kaingang da TI Rio dos Índios a inação da FUNAI e de outras instituições que realizaram discursos bonitos enquanto nas terras indígenas acontecem intervenções colonialistas militares territoriais. Contra esta dominação branca e a violência colonialista secular os jovens dançaram furiosamente e se reafirmaram como kaingang, em meio a uma sociedade etnocêntrica que em geral se afirma como descendente de europeus, e despreza as tradições ameríndias, empurrando os índios para esteriótipos de falta e inferioridade.

Os grupos presentes dançaram também de alegria pelo encontro de parentes e afins, pelo bom encontro entre aqueles que se complementam e caminham juntos.

Conhecimentos ancestrais sobre remédios da mata e alimentação kaingang foram partilhados com que esteve no encontro. E no pátio da aldeia, as margens da mata, rituais dos kujã com fumaças e banhos de ervas foram organizados, para fortalecer e auxiliar a todxs em suas caminhadas.

No topo do Morro do Osso, de pé, dançaram e oraram, os sábios kujã, ao lado dos kaingang que lutando pela Terra, lutam pelos seus!